625. Jul 2023_Meu cotidiano

meu cotidiano

Everton Thiago Moreira Macedo

Sou Everton Thiago Moreira Macedo, conhecido apenas por Thiago; sou fiel da Casa de Divulgação Brasil Yooki, localizada  em Jacupiranga, no interior paulista. 

Minha trajetória na Tenrikyo começou com os meus pais; foram eles que conheceram o Caminho e, consequentemente, conduziram meus irmãos e eu. Tenho recordações da Sede Dendotyo ainda criança, lá pelos meus seis ou sete anos, até minha adolescência. Não tenho recordações claras de ter entrado em outra igreja que não fosse a Casa de Divulgação.

Aos 12 anos, comecei a aprender Libras com os surdos da cidade. Eles estavam aprendendo e a curiosidade de criança me fez querer saber mais. Em Jacupiranga (SP), até o final dos anos 90, os surdos usavam sinais próprios, não a língua de sinais estruturada que conhecemos hoje. Minha mãe, que desde a infância conviveu com amigos surdos, só se comunicava com eles por uma espécie de mímica.

E a fase da adolescência chegou para mim e muita gente passa por uma série de questionamentos internos. Comigo não foi diferente. A época de faculdade, trabalho e relacionamento levou-me a conhecer outros lugares; acabei me afastando da igreja, mas não da Libras. Muito pelo contrário, fui estudar mais.

Após o término da graduação, fui trabalhar em uma empresa onde, além do meu trabalho regular, ajudava um surdo na comunicação com os demais. Foi aí que percebi que poderia ser uma profissão. Até então, eu só fazia trabalhos voluntários, idas ao médico, pequenas palestras, entrevistas, nada remunerado. Felizmente, os surdos da região já me conheciam, sempre me solicitavam alguma ajuda, idas ao banco, dentista, etc.

Todas essas ajudas me levaram a um convite de uma amiga para interpretar no Estado, cobrindo a licença maternidade dela. Eu já havia pedido desligamento da empresa e aceitei o desafio. Foi tão gratificante que fui estudar mais, realizei algumas pós-graduações na área de educação de surdos, docência de Libras e cursos na área de interpretação. Hoje falar da comunidade surda é um dos maiores prazeres que tenho na vida.

Minha volta à Casa de Divulgação se deu de maneira surpreendente. A universidade onde ainda ministro aulas me enviou para o polo, na cidade de Iguape, e a Mayumi Ishida me acolheu nos dias em que eu precisava me deslocar até lá. Ela sempre fez parte do meu caminho e naquela vez não foi diferente. As conversas que tivemos no período me fizeram ver as coisas de uma maneira diferente, e quando dei por mim, já estava novamente participando do Serviço; foi muito natural. Oyassama, certamente, tinha uma boa razão para as coisas acontecerem dessa forma.

Passei a frequentar novamente a Casa de Divulgação  aos poucos; logo as vindas ao Dendotyo começaram a acontecer. Em uma dessas vindas, fomos para o hinokishin no Encontro das Crianças, Tsudoi, creio que em 2019, antes da pandemia. Em umas das conversas, me apresentaram à Juliana e ao Ricardo. Nunca tive notícias de surdos na Tenrikyo. Começamos a conversar e o contato com a Associação Infantojuvenil, Shonenkai, foi muito rápido e me senti extremamente feliz com a possibilidade de usar o que aprendi fora aa igreja. 

Durante a pandemia, as Lives foram acontecendo e tornar as apresentações acessíveis se tornaram uma demanda comum. As conversas sobre acessibilidade foram acontecendo, até o ponto que estamos hoje; faço as gravações, a palestra da manhã e o que me solicitarem. Sei que o período que fiquei longe foi uma oportunidade de aprender e voltar para usar aqui. Sabe a sensação de ‘você vai, mas volta logo’ - é exatamente isso que sinto.

Hoje, além das interpretações no Dendotyo, me dedico ao meu trabalho formal. Sou professor e intérprete por formação, pela manhã dou aula para as turmas de Ensino Fundamental e Médio de Redação e Gramática em um Colégio, à tarde sou intérprete de Libras em outra instituição de ensino e, durante a noite, sou docente em uma universidade, ministro as disciplinas de educação inclusiva, Língua Portuguesa, Libras, Literatura Portuguesa, Literatura Universal e correlatas. O trabalho com educação recarrega minha bateria, é algo muito gratificante. 

Vejo o quão incluir os surdos é importante, não apenas para tê-los ali, mas dar-lhes o direito de conhecerem, em sua língua, o que Oyassama transmitiu, de uma maneira clara e acessível, além do crescimento espiritual. Esse é um dos maiores motivos de eu estar me dedicando na Tenrikyo. 

Sempre menciono o quanto o trabalho da Oyassama foi minucioso. Ela deixou um legado de sinais nas músicas, na dança e no uso do corpo para compor o todo; não é outra coisa senão inclusão. A todos os indivíduos é dado o direito de realizar o Serviço, seja tocando, cantando, dançando e até mesmo gesticulando. Acho realmente incrível! 

Espero ter conseguido me apresentar, falar um pouco do meu caminho de vida e dentro da Tenrikyo.  Espero poder ajudar muito mais, pois isso me faz muito bem. É como uma roda d’água que, quanto mais a água enche seus vãos, mais gera energia, impulsiona, não interfere no fluxo do rio, mas ajuda de inúmeras maneiras diferentes. Que cada evento, palestra, vídeo, Live seja um preenchedor em minha vida, me motivando a trabalhar e ajudar mais.