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Dedicação filial

Rev. Hirotoshi Yamada

Palestra da cerimônia mensal de março da Sede Missionária

Entramos no segundo ano dos 3 anos, mil dias que antecedem a celebração dos 140 anos do ocultamento físico de Oyassama e tenho a certeza de que todos estão se dedicando, firmemente, para cumprir as suas respectivas determinações espirituais.

Hoje, gostaria de falar sobre dois assuntos: sobre o decenário de Oyassama e sobre a relação entre pais e filhos.

Na Instrução 4, podemos compreender bem sobre este período rumo ao decenário de Oyassama:

“O período de três anos, mil dias para o decenário de Oyassama é o tempo de praticar o ensinamento e trabalhar mais ativamente na caminhada da dedicação sincera à salvação, tendo como meta a vida-modelo.”

Ainda, continua:

“O yoboku, conduzindo-se voluntariamente à igreja, animando-se no dia a dia ao hinokishin, deve se empenhar na divulgação a partir das pessoas próximas, como da família e do local de trabalho. Para as pessoas que estão sofrendo com problemas físicos e circunstanciais, vamos confortá-las de coração, solicitar a solução através do Serviço, ministrar o Sazuke nas pessoas que sofrem de doenças e transmitir-lhes que existe o verdadeiro caminho da salvação.”

Este trecho aponta como devemos agir, o que devemos colocar em prática.

No entanto, algumas igrejas estão localizadas em locais distantes e de difícil acesso e, para a prática da divulgação, é necessária uma grande coragem.

Por outro lado, temos a liberdade do uso espiritual. Por exemplo, preocupados com a enfermidade de uma pessoa, podemos solicitar a salvação a Deus. Ou ainda, viver sempre pensando em contentar as pessoas.

Refletindo superficialmente, creio que isto não seja uma tarefa difícil. Acredito que essas atitudes contentam Deus-Parens e Oyassama e isto tem ligação com o fato de recebermos as providências divinas.

Penso que isto é o primeiro passo para a vida plena de alegria e felicidade.

Deus-Parens criou os seres humanos para compartilharmos com Ele a vida plena de alegria e felicidade, sendo, portanto, para nós, seres humanos ,uma missão que devemos cumprir.

No capítulo IX do livro Doutrina da Tenrikyo, temos:

“A alegria de ter sido salvo encontra expressão nos atos espontâneos de salvar os outros. Aqui, o homem torna-se um material para a construção do mundo de vida plena de alegria, desejado por Deus-Parens. Eis porque foi denominado de yoboku, que significa madeira de lei ou usável.”

Para a construção da vida plena de alegria e felicidade, Deus-Parens necessita de materiais.

Dessa forma, é possível compreender a importância do papel de um yoboku.

A partir do momento em que o yoboku recebe o Sazuke, ele recebe também essa importante missão de Deus-Parens.

Imagino que aqui haja muitos yoboku presentes no dia de hoje.

Todos vão a Jiba, ouvem nove vezes as preleções do Besseki e recebem o Sazuke. Todos nos felicitam.

Mas, o objetivo não é apenas receber o Sazuke.

Como Yoboku, é preciso servir como material para a construção do mundo de vida plena de alegria e felicidade.

Então, como será que o yoboku deve agir?

Embora explicado na instrução 4, temos ainda no livro Doutrina da Tenrikyo:

“A missão do yoboku é a dedicação única à salvação. Isto começa com o ato espontâneo de divulgação da fé, que consiste em transmitir as palavras de Deus-Parens, gravando bem no espírito a razão do céu e mostrando pessoalmente na prática a verdade dos ensinamentos. Adiantando-se mais, ministra-se a Concessão ou Sazuke desejando com toda sinceridade salvar de qualquer maneira o necessitado. Então, uma salvação extraordinária aparecerá realmente.”

Ou seja, primeiramente, devemos aprender e assentar os ensinamentos no espírito, praticar as condutas de um yoboku e realizar a divulgação.

Quanto a estudar sobre os ensinamentos e praticar condutas de um Yoboku, penso que não há grandes dificuldades. No entanto, a divulgação, que começa com “conversar com as pessoas”, penso ser mais difícil.

No entanto, a “divulgação” não se resume apenas em pregar os ensinamentos da Tenrikyo às pessoas.

Na Instrução nº 4, temos:

“O yoboku (...) deve se empenhar na divulgação a partir das pessoas próximas, como da família e do local de trabalho.”

Como se observa, devemos animar e ajudar as pessoas que estão próximas.

Acredito que, se todos se ajudassem mutuamente, haveria mais alegria no mundo, porque todos se sentiriam mais seguros por poderem contar com as pessoas ao seu redor. E, se tiver alguém com problemas de saúde, devemos ministrar o Sazuke com sinceridade.

Penso que, de um lado, há o desejo de salvar e, por outro lado, o desejo de ser salvo; o sentimento de ambos será aceito por Deus-Parens.

Ao estudar e ouvir os ensinamentos, sentimos como se já soubéssemos o suficiente, mas há muitas coisas que não acontecem como desejamos.

Nós, seres humanos, sempre, a todo o momento, recebemos a proteção de Deus-Parens. Apesar disso, pensamos que não estamos recebendo as proteções.Reclamamos muito e não conseguimos sentir felicidade.

Acredito que há momentos em que as pessoas pensam dessa forma: Eu sempre estou fazendo o hinokishin... Vou todos os meses à cerimônia mensal... Ninguém me escuta durante a divulgação... Assim, muitos acabam desistindo por não vislumbrarem os resultados.

Relatando um caso particular, logo que cheguei ao Brasil, recebi um telefonema de um fiel, que disse:

Condutor, será que o senhor poderia nos ajudar? - respondi que sim e, imediatamente, saí da igreja.

Era a minha primeira visita a um hospital, então estava nervoso. Ao entrar, logo encontrei os familiares. O caso era de uma pessoa que havia levado um tiro no estômago.

Como sou missionário, excepcionalmente, autorizaram a minha entrada na UTI e pude ministrar o Sazuke. Depois, continuei indo diariamente, a pé, para ministrar o Sazuke.

Certo dia, ministrei o Sazuke no momento em que os médicos estavam tirando um sangue bem escuro dessa pessoa. Houve dias em que o médico responsável não me deixou entrar na UTI e mandou realizar o Sazuke do lado de fora. Houve, também, dias em que realizei desesperadamente o Serviço do lado de fora.

Passada uma semana, ele teve uma febre alta e disseram que o risco de perder a vida era de 90%.mesmo assim, ministrei o Sazuke e realizei o Serviço de Solicitação fervorosamente. Depois de duas semanas, a febre tinha começado a baixar e foi transferido para o quarto normal. Posteriormente, o paciente recebeu alta hospitalar, sem sequelas. A pessoa que se salvou não era fiel e não tinha qualquer ligação com a igreja.

Alguns anos depois, recebi novamente um telefonema do mesmo fiel da igreja. Ele me pediu para ir ao hospital porque havia uma pessoa precisando de ajuda.

Fui imediatamente ao hospital e encontrei os familiares da pessoa que havia ajudado anteriormente e alguns fiéis da igreja. A pessoa  estava com pneumonia e dengue e, novamente, correndo risco de vida.

Eu já tinha ministrado o Sazuke dentro de uma UTI, mas ainda sentia um certo nervosismo. Entrei com avental, touca e máscara. Ministrei o Sazuke  diariamente e, apesar do risco que estava correndo, recebeu a graça e teve alta hospitalar.

Lembro-me que, naquela época também, realizei o Sazuke com muita dedicação e sinceridade. 

Enquanto a pessoa estava hospitalizada, os familiares compareceram diversas vezes à igreja, mas ele nunca se tornou um fiel da igreja. Entretanto, os membros da família dele começaram a frequentar a igreja e participaram do Curso de Doutrina, do Curso de Formação Espiritual e do Curso Estudantil.

Eles também praticam o hinokishin na igreja e, na residência, foi consagrado o símbolo de Deus-Parens. Pouco a pouco, estão se aprimorando no Caminho.

Não temos como saber quando e nem de que forma será a graça que iremos receber. Na época, depois de ministrar o Sazuke desesperadamente e com muita sinceridade, enquanto voltava para a igreja, até cheguei a pensar e me preocupar; caso a pessoa  não se salvasse, alguém falaria que foi por causa de um missionário da Tenrikyo vindo do Japão, que não se salvou. Mas, por outro lado, eu me confortava pensando que, independentemente do resultado, estava me dedicando ao máximo, o que alegraria a Oyassama.

Mesmo que não recebamos a graça, Deus-Parens e Oyassama estão sempre nos apoiando.

Na Escritura Divina, temos:

Se transporem ladeiras e montanhas, e sarças espinhosas, e trilhas em precipícios, e espadas...   (ED I-47)

Verão ainda no meio de chamas e abismos profundos. Se os ultrapassarem, terão um caminho estreito.

 (ED I-48)

Se passarem pelo caminho estreito passo a passo, terão um amplo, que é certamente o real.     (ED I-49)

O período de três anos que antecede a celebração dos 140 anos de ocultamento físico de Oyassama é um período especial. Ao seguirmos a vida-modelo de Oyassama, receberemos uma grande graça e teremos uma grande evolução. É um período muito gratificante!

Se deixarmos passar essa época, não saberemos quando as sementes brotarão. No Hino VII, temos: “Todas as sementes brotarão.

Significa que, tanto as sementes boas quanto as ruins brotarão em algum momento. Todos os dias acontecem coisas boas e ruins. No entanto, não sabemos quais das nossas atitudes terão ligação com as graças.

Acredito que, em primeiro lugar, se ajudarmos as pessoas ao nosso redor, como a família, parentes, amigos e colegas de trabalho, apoiando-os, conseguiremos expandir o círculo de uma vida alegre.

Além disso, se acreditar nos ensinamentos de Deus-Parens e trilhar a vida-modelo de Oyassama, será capaz de sentir gratidão em tudo que acontecer. Ao sentir gratidão e alegria pelo que recebeu de Deus-Parens e trilhar com satisfação sincera, essa postura refletirá nas pessoas ao seu redor, o que será uma boa divulgação.

Quanto mais boas sementes plantar, melhor será o seu futuro. No entanto, se ficar só reclamando, estará plantando sementes ruins. Infelizmente, já reclamei diversas vezes sobre meus pais. Sempre que fazia isso me arrependia e pedia desculpas, mas a semente ruim já tinha sido plantada, deixando de receber as graças.

Se houver reclamação, faça o Serviço Sagrado. Com isso, conseguirá acalmar o coração, mudar o comportamento e se sentirá melhor para passar o dia a dia.

Devemos tentar ter sempre o espírito de satisfação sincera. Pretendo manter em mente os deveres do Yoboku e colocá-los em prática todos os dias.

Tenho quatro filhos.

Os pais sempre se preocupam com seus filhos. Sempre pensamos em como gostaríamos de educá-los e como gostaríamos que fossem no futuro. Costumo sempre conversar com eles sobre tudo que acontece. 

Como condutor de igreja, os fiéis também são muito importantes para mim. Desejo que os fiéis da igreja sejam felizes. Acredito que, em razão da barreira do idioma, há vezes que faço os fiéis reclamarem.

Os pais fazerem os filhos reclamarem também não é uma coisa boa.

Nas Indicações Divinas, temos: 

“Qualquer coisa; instruir locais difíceis é a função do Parens. Se os pais se enraivecerem, nada se poderá fazer!”            (ID de 13 de novembro, 1898)

Acredito que temos que cuidar dos fiéis da igreja e das pessoas que estão à nossa volta como se fossem nossos queridos filhos. 

Sem reclamar e fazer com que os outros não reclamem, devemos nos dedicar com sinceridade e orientar as pessoas. Não é uma tarefa fácil, mas como pais, devemos sempre tentar alegrar os filhos. Com isso, os filhos se tornam pais e assim segue de geração em geração.

Meus filhos sempre dizem que sou bonito. Mas, não sei por quanto tempo eles continuarão falando isso. Talvez, logo, começarão a dizer que sou chato e vão se afastar. No entanto, a relação de pai e filhos permanece.

Os pais sempre se preocuparão com seus filhos. Por outro lado, os filhos desejam que seus pais permaneçam saudáveis para sempre. Sempre perguntamos se está tudo bem com eles. E, estamos sempre abertos para manter uma conversa com o nosso filho. Acredito ser importante essa dedicação que os pais têm com os filhos. Não devemos esperar que o filho venha falar conosco ou venha até você.

É importante que os pais se aproximem dos filhos e os deixem se aproximarem de você. Se tivermos este espírito, ajudando-se mutuamente, acredito que, com isso, haverá continuidade por todas as gerações.

A celebração dos 140 anos do ocultamento físico de Oyassama será o momento para mostrarmos a Oyassama o quanto evoluímos. No dia da celebração do decenário, pretendo agradecer por toda a proteção recebida e demonstrar o quanto pude evoluir espiritualmente. Para isso, pretendo me dedicar diariamente para cumprir a minha determinação espiritual e, assim, alegrar a Oyassama. 

Muito obrigado

*é condutor da Igreja Glória