Dias especiais e marcantes
- Reverendo Yoshio Watanabe*
Há poucos instantes, tendo o primaz e sua esposa ao centro, acabamos de realizar a cerimônia mensal de abril, comemorando também o aniversário de Oyassama eternamente viva. Tenho a certeza de que Deus-Parens, Oyassama e os antepassados estão muito satisfeitos com a execução animada e a sinceridade do espírito de todos os senhores.
Ontem tivemos o bazar da Associação Feminina e o Tenri Matsuri, com diversas barracas de várias regionais. Ainda, tivemos o ensaio geral do Serviço e também o Concurso de Koteki, e as alegres vozes das crianças ecoaram por todo o Dendotyo. Mesmo os adultos ficaram muito animados em ouvir as vozes das crianças. Se dependesse de mim, daria o prêmio Ouro a todos os grupos de Koteki que participaram do concurso. Para este concurso, tanto as crianças, como pais, mães e encarregados, vieram se dedicando desde muitos meses atrás, mas penso que o objetivo principal do Koteki não é vencer o concurso. Através dessas atividades, devemos transmitir às crianças a alegria da fé de acordo com as diretrizes de atividade da Associação Infantojuvenil, “demonstrando a atitude de Hinokishin, vamos formar crianças que pratiquem os ensinamentos”.
Quando eu era membro da Associação Infantojuvenil, fui instruído em relação aos lemas “levantar cedo, ser honesto e ser trabalhador”, uma orientação para o espírito de vida plena de alegria.
Todo começo de ano, firmo com Deus-Parens o compromisso de me dedicar durante o ano para transformar a igreja num local que transborde alegria. Para isso, creio que é importante que essa atitude transbordante de alegria comece com a minha própria atitude diária. Assim, todos os dias, trabalho para que as pessoas que visitam a igreja saiam de lá dizendo como foi bom ter ido à igreja, como foi boa a palestra que ouvi. Penso que a igreja é um local como uma lata de lixo, que aceita qualquer coisa, todas as reclamações, todas as insatisfações do dia a dia, e transforma tudo isso em alegria.
Recentemente, li num jornal econômico japonês a respeito de cinco atitudes que os jovens de hoje não praticam: não cumprimentam; não agradecem; não se desculpam; não abaixam a cabeça para compreender o ensinamento; não conseguem buscar novos desafios.
Falando ao contrário, se formarmos pessoas que consigam praticar essas atitudes, teremos um ótimo cidadão do mundo. Vamos formar e encaminhar as crianças da Associação Infantojuvenil no sentido de serem capazes de praticar essas atitudes.
Mudando de assunto. Este ano é um ano bissexto e temos 366 dias. Na sociedade, dizem que há dias bons ou dias ruins, propícios ou não propícios para isso ou aquilo. No episódio 173 do livro Episódios da Vida de Oyassama, temos:
“Não há um dia a sentir-se insatisfeito. Todos os dias são bons. No mundo, costuma-se escolher os dias para tratar de casamento, para celebrar a colocação da última viga numa construção, etc. Porém, o melhor dia é aquele em que todos estejam com o espírito animado.”
Dia primeiro - Iniciar.
Dia dois - Abundância.
Dia três - Tudo nutre.
Dia quatro - Felicidade; ficar bom.
Dia cinco - As providências brotam.
Dia seis - Assenta-se a igualdade.
Dia sete - Nada há a lamentar-se.
Dia oito - Estender-se para as oito direções.
Dia nove - O sofrimento desaparece.
Dia dez - Suficiência.
Ensinou, dessa forma, que no ano todo, não existe nenhum dia que se possa dizer ruim.
No entanto, creio que todos tem um dia que foi inesquecível na sua vida. Datas que os fiéis da Tenrikyo não podem esquecer são o dia 26 de janeiro, quando Oyassama ocultou-se fisicamente e passou a trabalhar com sua alma eternamente viva e presente; o dia 26 de outubro, que foi o dia de revelação divina; e o dia 18 de abril, que marca o aniversário de Oyassama. No dia 18 deste mês, Oyassama comemora 214 anos desde o nascimento.
Eu também tenho um dia inesquecível. É o dia 11 de março. Tenho três lembranças em relação a este dia. A primeira lembrança é do dia 11 de março de 50 anos atrás, quando parti da igreja-mor, juntamente com minha esposa, com o espírito cheio de sonhos e esperança rumo ao Brasil como imigrante de Tenri, com inúmeros amigos e parentes se despedindo de nós. Tínhamos nos casado apenas 20 dias antes e éramos recém-casados. Há exatos 50 anos, justamente no dia 8 de abril, estávamos no Oceano Índico, numa “festa de transposição da linha do Equador” dentro do navio de imigrantes.
Graças a Deus-Parens, alguns dias atrás, pudemos comemorar nossas Bodas de Ouro. Passamos 50 anos sem trocar nenhuma vez de par. Como é que aguentamos tanto tempo? Quem aguentou? Creio que, com certeza, foi mais a minha esposa.
Depois que fomos apresentados um ao outro, em menos de meio ano nos casamos. Mesmo sendo um homem sem nenhuma fortuna para oferecer, um homem que ela não conhecia direito, sem saber para onde seria levada, quando se deu conta, já estava sendo trazida para o Brasil. Creio que houve dias em que ela chorou escondida. Desde então, já se passaram 18.260 dias; é um tempo longo. Nossa, como ela suportou durante tanto tempo? Muito obrigado!
A esposa do primeiro Shimbashira, a senhora Tamae Nakayama, no registro que ela deixou, “O Caminho da Mulher”, ela citou:
“O caminho da mulher, em uma palavra, é o caminho da ‘sinceridade’. Sinceridade é o espírito humilde, bondoso e obediente. São palavras que se destinam às mulheres. Ao marido, deve lidar com espírito humilde, aos pais, deve lidar com espírito obediente, aos filhos, deve lidar com espírito bondoso. Assim deve passar o dia a dia. A mulher faz tudo sozinha. Tem vontade de deixar que os outros façam, mas mesmo que pense em deixar que os outros façam, nada se concretiza. Não é um caminho para forçar os outros a fazerem. É um caminho que deve ser trilhado voluntariamente por cada um. A mulher é a base. A base tem que ser grande. Se a base for pequena, cairá. A disposição espiritual da mulher para passar o dia a dia é difícil. É mais difícil do que a do homem. O modo de dizer algo, de ouvir algo, de fazer algo, cada coisa é diferente do homem. Ao homem, há o caminho para o homem passar; à mulher, há o caminho para a mulher passar. Apenas com o espírito da mulher, pode-se extinguir tanto uma casa como um país.”
Ouvindo essas palavras, creio que o Caminho no Brasil depende do espírito único da mulher.
O segundo evento do dia 11 de março ocorreu um ano depois que chegamos ao Brasil, quando nasceu o primeiro filho, Roberto. Foi um parto bastante difícil. Estávamos trabalhando numa fazenda distante cerca de sete quilômetros do Dendotyo. Não havia hospitais equipados como existem hoje. Assim que começaram as dores do parto, nosso patrão chamou uma parteira. Era o primeiro parto de minha esposa e, sem saber de nada, apenas fazia o que lhe mandavam. A bolsa estourou primeiro e o filho não saía. Tivemos que chamar um médico às pressas e só depois é que nasceu a criança. Como mandaram todos os homens saírem do quarto, fiquei dentro do caminhão apenas preocupado. Quando ouvi o choro do recém-nascido, estava já bastante cansado, mas me lembro que foi uma alegria imensa.
Na época em que Oyassama nasceu, o parto era um duro encargo da mulher. Diziam que “tinha que dar à luz com a disposição espiritual de estar colocando um pé no caixão”. Dessa forma, a situação era muito precária e muitas pessoas acabaram perdendo a vida nessa hora. Depois disso, Oyassama, como aurora do Caminho da salvação, começou a conceder a permissão do parto feliz.
Esse primeiro filho, este ano, deve me suceder no cargo de condutor da igreja. É muito gratificante.
Por último, o último 11 de março, é claro, foi o grande terremoto do leste do Japão e o acidente nuclear que se seguiu no ano passado. No mês passado, completou-se um ano desde o desastre, e foi, realmente, um choque muito grande que não se pode expressar em palavras.
No dia 12 de março do ano passado, tendo o Primaz ao centro, fizemos o Serviço de solicitação para que as pessoas atingidas pudessem se recuperar o quanto antes e refazer as suas vidas. Ainda, atendendo a um chamamento do Primaz, companheiros da fé de todo o Brasil fizeram suas contribuições para serem enviadas aos atingidos.
No dia seguinte ao terremoto, o corpo de hinokishin para calamidades da Tenrikyo, composta por grupos da Sede, das administrações regionais, das igrejas-mor, das igrejas e também pessoas, individualmente, num total de mais de 50 mil pessoas, começaram a chegar à região levando arroz, água, cobertores e gêneros de primeira necessidade para ajudarem nos serviços, desde cozinhar arroz até recolher o entulho da região atingida. Entre os especialistas, diz-se que “em termos de quantidade de pessoas e qualidade de serviços, depois da força de defesa japonesa, foi a organização que mais contribuiu nos trabalhos de salvação e recuperação.” Recebeu, assim, uma excelente avaliação de toda a comunidade: “Nós é que solicitamos ajuda, mas depois do trabalho, eles abaixam a cabeça e ainda nos agradecem. Realmente, a formação dos tenrikianos é algo extraordinário.” Num panfleto de uma certa região atingida, estava escrito: “Agradecemos de coração aos voluntários da Tenrikyo, que todos os dias têm desenvolvido atividades de salvação e recuperação desde cedo da manhã.”
O Shimbashira, em sua saudação de início de ano, disse:
“A ocorrência de desastres naturais são a manifestação do pesar e da ira de Deus-Parens e é uma orientação bastante rigorosa. Para nós, que conhecemos a intenção de Deus-Parens, dependendo de nossa disposição espiritual, podemos receber a providência no sentido de não ter que passar por esses desastres, ou, se tivermos que passar, a providência de transformar as grandes dificuldades em pequenas, ou até em nada. Correr para ajudar quando ocorre alguma calamidade é importante, mas devemos passar nosso dia a dia com o espírito que corresponde à intenção de Deus-Parens, de modo que possamos ser poupados da ocorrência dessas calamidades. Temos que nos esforçar nas atividades de divulgação e salvação, na transmissão dos ensinamentos de Deus-Parens, para que um maior número de pessoas possa viver cotidianamente de acordo com a intenção divina.”
Ainda, em todas as partes do mundo têm ocorrido diversas calamidades naturais. Com certeza, este mundo está vivo. Está respirando. E nós, seres humanos, estamos sendo vivificados por Deus-Parens. A vida que levamos dia a dia, sem maiores dificuldades, na verdade não é algo tão natural. Quanto é gratificante a vida cotidiana que levamos normalmente!
Dessa forma, tenho três dias inesquecíveis em minha vida. Creio que cada um dos senhores também tem um dia especial em suas vidas.
Vamos trilhar o caminho incentivando e animando uns aos outros e aprofundar os laços entre as pessoas, com espírito de gratidão, satisfação e salvação.
* é diretor da Sede Missionária