Entrevista especial



Entrevista com o Rev. Zensuke Nakata

Diretor-Geral Administrativo da Sede da Igreja

Entrevista concedida à Revista Miti-no-Tomo, publicada na edição de maio de 2020


Para superar o enorme nó do novo coronavírus

- Acreditar no amor parental de Deus-Parens e refletir sobre o próprio espírito

P: Como o senhor analisa a situação atual da disseminação do novo coronavírus?

R: Inicialmente, gostaria de manifestar condolências às pessoas que perderam entes queridos devido ao vírus e, também, o agradecimento aos profissionais da área de saúde que estão trabalhando incansavelmente na contenção e recuperação das pessoas infectadas.

Acredito que ninguém imaginava que esse novo coronavírus causasse tamanha repercussão em tão curto espaço de tempo e em uma velocidade de infecção tão impressionante. O mundo inteiro está coberto de medo e insegurança por não saber o que fazer quando essa onda de infecção chegar próximo de si. Como é uma situação inesperada e repentina, ainda não está sendo possível tomar as medidas mais adequadas.

Devido ao medo e a insegurança, há uma grande desordem na política, na economia, na educação e na cultura, entre outras áreas. Ainda, devido às ordens governamentais para evitar sair de suas casas e participar de eventos, as pessoas estão deixando de se relacionarem com as outras, nas mais variadas situações. Isso pode vir a se tornar em um grande problema. Mesmo que a pandemia venha a cessar, os problemas deste momento não serão resolvidos rapidamente. Pelo contrário, resultarão em novos problemas, com consequências que pressionarão todas as sociedades. A probabilidade de que essa situação piore é cada vez mais alta.

No começo da epidemia, vimos as nações do mundo unindo forças para superar esse vírus. Eu acredito que não podemos ignorar esse aspecto. Entretanto, o que me preocupa, é que essa união parece estar diminuindo, devido ao agravamento da situação com o aumento de pessoas infectadas em cada uma dessas nações.

P: O que o senhor pensa sobre a situação atual?

R: Os acontecimentos que ocorrem pelo mundo todo e pelo Japão, chegando até a nossa volta, são os mais variados possíveis. Apesar de a situação divergir em cada local, com certeza, existe aí a intenção de Deus-Parens. Como seguidores deste Caminho, não devemos ficar apenas observando essa situação. Procurando enfrentar cada situação com flexibilidade, creio que é importante realizar uma profunda reflexão e esforçar-se para superar esse enorme nó, recebendo a graça de fazer surgir brotos desse nó.

Desde épocas remotas até o presente, não apenas no Japão, mas também em todo o mundo, surgiram diversas epidemias que causaram medo e insegurança na população. Houve época em que os missionários puderam entrar em contato direto com a pessoa infectada, mas, na situação social atual, isso não é permitido. Assim, é importante pensar nas formas de praticar a salvação, distinguindo as circunstâncias do passado e do presente.

Entretanto, o que não se pode esquecer é que existe um caminho a ser percorrido para conseguir receber a graça e devemos pensar seriamente o que fazer para receber a graça. Isso não muda, seja no passado ou no presente. Refletindo sobre a situação atual do novo coronavírus, o que se espera de nós é a força para buscar aquilo que cada um pode fazer diante dessa situação. Ao invés de pensar como sempre viemos pensando em situações anteriores, devemos buscar as abordagens mais adequadas à situação atual.

Ainda, buscando a intenção divina através dos Textos Originais, temos, por exemplo, um verso da Escritura Divina que diz:

Aquilo que o mundo chama de cólera, é um aviso do pesar de Tsukihi. (E.D. XIV-22)

A cólera foi uma epidemia ocorrida no Japão, por volta do ano de 1879. Mas, se analisarmos somente esse verso, o campo de visão ficará limitado. Ao observar a sequência dos versos 21 a 28 da Parte XIV (referência 1), é possível compreender a angústia do amor parental de Deus-Parens. O “pesar” é porque os seres humanos estão apenas acumulando poeiras no espírito e Deus deseja, o quanto antes, conceder a vida plena de alegria e felicidade.

Referência 1

O que quer que Tsukihi faça no corpo, não é uma doença, e sim, o seu cuidado. XIV-21

Aquilo que o mundo chama de cólera, é um aviso do pesar de Tsukihi. XIV-22

No mundo, acontece o mesmo com todas as pessoas: têm o espírito que só se desanima. XIV-23

Doravante, reformando firmemente o espírito, tornem-no repleto de alegria. XIV-24

Tsukihi criou os seres humanos por desejar ver o viver alegre e feliz. XIV-25

No mundo, por não conhecerem esta verdade, todos estão somente a desanimar-se. XIV-26

Se impedirem o viver repleto de alegria que Tsukihi diz, o seu pesar se tornará maior. XIV-27

Compreendendo seguramente estas explanações, reflitam logo sobre isso. XIV-28

Dessa forma, ao compreender o conteúdo dos versos anteriores e posteriores, vemos que é imprescindível uma postura de procurar, a fundo, a intenção de Deus-Parens.

Outra coisa importante é direcionar uma seta para o próprio espírito e pensar naquilo que cada um pode realizar como um seguidor deste Caminho. Apesar de não sermos especialistas, seja na área da saúde, da economia ou da política, nós fazemos parte deste mundo e, como seguidores deste Caminho, se faz necessário pensar naquilo que cada um pode realizar com sinceridade e dedicação.

P: Poderia dar mais detalhes sobre isso?

R: Primeiramente, temos que estar firmemente cientes de que estamos no meio dessa grande situação adversa, e que o medo e a insegurança em relação ao futuro se espalham por todo o mundo. A primeira coisa que cada um deve fazer é solicitar séria e fervorosamente a Deus-Parens, da forma que cada um pode fazer, da forma permitida pela conjuntura social.

Vendo pela história da Tenrikyo, houve épocas em que o governo impôs limites ao nosso Ensinamento, como nas ocasiões da Portaria Confidencial e da Reforma (referência 2).


Referência 2

Portaria Confidencial - no ano de 1896, foi decretada a 12ª Portaria, pelo ministro do Interior. Foi chamada de “Portaria Confidencial” porque foi notificado secretamente às autoridades policiais de todo o país que incrementassem a repressão sobre a Tenrikyo. Ao mesmo tempo, o Ministério do Interior, através da Sede do Xintoísmo, obrigava a implementação de alterações no conteúdo da Doutrina. O Serviço Sagrado deveria ser realizado apenas com a 2ª e 3ª Parte; no Serviço mensal, as máscaras tinham que ser deixadas sobre a mesa e somente os homens poderiam participar da execução; o nome divino “Tenri-Ô-no-Mikoto” foi reformado para “Tenri-Ohkami”, entre outras ordens impostas.

Reforma - no ano de 1937, devido à eclosão da Guerra Sino-Japonesa e para reforçar o estado de guerra, o governo ordena a alteração da doutrina e da estrutura de modo a se adequar à nova estrutura do país. Com isso, era proibido utilizar as máscaras de Kagura e executar o Hino Yorozuyo, o Hino III e o Hino V.

Hoje, podemos realizar o Serviço Sagrado sem qualquer intervenção ou imposição do governo. É importante sentir como isso é gratificante e motivo de muita felicidade.

Como conhecemos as práticas para solicitar a salvação, acredito que, sem se importar com a forma, a primeira coisa que cada um pode fazer é rezar, mesmo que seja da própria residência ou, se as circunstâncias locais permitirem, indo à igreja.

Em seguida, acreditar que todos os fatos e eventos que ocorrem neste mundo são realizações de Deus-Parens, e neles existe o grandioso amor parental no sentido de encaminhar para a vida plena de alegria e felicidade. Mesmo que sejam situações que causem preocupação ou insegurança, temos que ter a convicção de que neles há, com certeza, o amor parental. Ao ser questionado que tipo de amor parental é esse, talvez não seja tão simples de responder, mas devemos acreditar firmemente que aí existe o amor parental. O Parens não mostra problemas que os filhos não consigam superar. Por isso, é muito importante ter a convicção de que os seres humanos, com certeza, possuem força para superar essas adversidades.

Em meio a uma situação em que um suspeita do outro, se separando e se isolando, na sociedade atual, vejo uma tendência de criticar as situações que já ficaram no passado, como por exemplo: “Como foi que isso aconteceu?” ou “Como não fez isso, vemos o resultado agora!”. Porém, como as situações vêm mudando com uma velocidade impressionante, em vez de ficar olhando para trás, devemos nos esforçar em pensar de forma positiva, fixando o olhar ao futuro. Se não pensar dessa forma, creio que não conseguiremos demostrar, suficientemente, a força para superar essa adversidade.

Gostaria de mencionar as palavras do Shimbashira II, no “9º Curso de Doutrina”, realizado em março de 1940, período em que o governo impôs restrições ao Ensinamento, devido ao regime de guerra, quando o Japão estava passando por reformas de uma nova Era.

“Vendo o mundo e vendo o Ensinamento, é realmente um enorme nó. Mas, não é o momento de ficar criticando esse enorme nó. Cada um, tendo em mente que está vivendo dentro desse nó, deve refletir como é possível superar esse enorme nó e não ficar apenas criticando às avessas. De nada adianta viver dentro desse nó e ficar criticando. Desejo que abandonem o sentimento de ficar inerte, apenas observando e criticando. Em vez disso, desejo que coloquem em prática.”

São palavras mencionadas em meio ao “problema circunstancial mundial”, que era a guerra. Diante desse problema, não era para ficar criticando, procurando um culpado ou a origem disso. Está instruindo que é para pensar em como superar o enorme nó e colocar em prática aquilo que cada um consegue realizar.

Pensando por essa perspectiva, animar uns aos outros, pensando positivo, é algo importante que conseguimos realizar. No dia a dia, vamos sempre dizer palavras de entusiasmo como: “Apesar das diversas preocupações, vamos nos esforçar, pois o ser humano tem a capacidade de superar as dificuldades”. Talvez se irritem, pensando que estou falando coisas sem pensar, mas, como mencionei antes, nós, que somos seguidores, dentro desse enorme nó, devemos vislumbrar um sinal de união espiritual de todo o mundo. Olhando para o objetivo do ensinamento de Oyassama, para superar esse enorme nó, é necessário fazer do ideal da concretização do mundo de vida plena de alegria e felicidade a própria convicção da fé, para que isto se torne a força motriz de um espírito animado, e, também, com isso, consiga animar as pessoas do mundo. Creio que não é apenas incentivar, mas sim, sentir a responsabilidade de incentivar as pessoas. Por isso, com a firme convicção em relação ao amor parental de Deus-Parens, creio que incentivar as pessoas, dizendo: “Vamos nos alegrar para superar essa dificuldade!”, isso é uma ação concreta que cada Yoboku pode tomar.

Outra coisa é refletir sobre a própria fé, sobre o modo de viver e pensar no dia a dia. Se disser: “Não é hora para pensar sobre isso!” - posso até concordar. Mas, é comum os seres humanos se esquecerem das coisas após cessarem as dificuldades. Com as diversas restrições, aumenta o nosso tempo disponível. Se aceitar isso como um tempo que lhe foi concedido, creio que se torna um importante momento para refletir sobre a própria postura na fé.

A situação atual não permite que os yoboku e seguidores se reúnam nas igrejas, para realizar atividades. Mas, se pensar que Deus-Parens está questionando como devem ser as atividades da igreja, podemos compreender que Deus está incentivando cada pessoa ligada à igreja para rever as próprias condutas. Segundo um antigo mestre, ele disse: “Mesmo que as pessoas estejam completas para executar o Serviço Sagrado, se o espírito das pessoas não estiver purificado, a razão da salvação não trabalhará”. Por isso, acredito que, neste momento, devemos purificar o espírito e reavaliar, com firmeza, como proceder para receber as graças da salvação. Devemos fazer com que Deus-Parens se anime.


Referência 3

História dos precursores

Oyassama disse: “se cortar a raiz das poeiras, cortará a raiz das doenças; até cortar a raiz das poeiras, nem pense que a raiz das doenças foi cortada.

Uma família em harmonia é como a água purificada. Purificando a todos, Kanrodai. Por mais que execute o Serviço ‘tendo purificado todos igualmente’, se o espírito estiver com ciúmes e inveja, é como um espírito anuviado. Não purificou nem um pouco que seja. Nesse sentido, por mais que solicite a Deus, não será aceito. Nem lhe escutará.

Este Caminho não é uma fé de boa lábia ou de mãos habilidosas. Se a boca, o espírito e as mãos não estiverem em harmonia, não será sinceridade. Não será possível nem apaziguar a família e nem a salvação mundial. Se nem consegue realizar essa pequena salvação, não conseguirá de forma alguma realizar a grande salvação. Daqui em diante, devemos nos amparar em Deus e seguir o caminho da ajuda mútua.”

(Livro - Oyassama yori kikishi hanashi, Naokiti Takai, editora Doyusha)

P: Qual é o pensamento do senhor sob o ponto de vista da “salvação mútua”?

R: Vemos a tamanha rapidez com que o vírus se propaga entre as pessoas. Falando de outra forma, isso prova que vivemos ligados a muitas outras pessoas. Através do desconforto causado pelo distanciamento e isolamento social, está sendo ensinado que, para a convivência humana, o relacionamento e a ligação entre as pessoas é algo imprescindível.

Pensando dessa forma, é importante que nós, Yoboku, sendo todos igualmente irmãos, avancemos em direção à “salvação mútua”. É importante também, fortalecer dentro de si a consciência sobre a missão de transmitir ao mundo a respeito da “salvação mútua”.

Por exemplo, apesar de muitas pessoas não poderem se reunir nas igrejas, podemos incentivá-las por telefone e, para aquelas que vierem, podemos conversar individualmente com elas. Como não podemos realizar as coisas como antes, vamos procurar novas formas, porque, com certeza, existem outras formas. Nesse sentido, podemos dizer que é uma oportunidade para a igreja demonstrar a sua “força para cuidar” dos fiéis.

Ainda, dirigindo-se à sociedade, é importante postar mensagens que se tornem a fonte da alegria, dizendo: “Juntando as forças, vamos nos esforçar! Nós, seres humanos, podemos superar essa dificuldade!” Ou, por exemplo, dizer que somos “Um mundo, uma família” e, como irmãos, ao invés de suspeitar um do outro, vamos salvar um ao outro, postando mensagens alegres e animadoras nas redes sociais ou no quadro de avisos da igreja. Acredito que isso seja um dos meios de salvação.

Hoje, as pessoas estão cobertas de medo e insegurança. Por isso, nós, seguidores do Caminho, precisamos ser os primeiros a conversar e incentivar, com alegria e ânimo, esforçando-nos no sentido de unir mutuamente o espírito para a salvação do próximo, com “o espírito repleto de alegria”, “o espírito de salvar as pessoas”, de modo que elas possam pensar: “como é uma mensagem de alguém da igreja, fico mais tranquilo e consigo me acalmar”. Creio que refletir e transmitir essa imagem ao mundo é uma das práticas e a contribuição que podemos fazer para a salvação mútua entre todos os irmãos do mundo.

P: Por último, gostaria de saber qual a disposição espiritual que devemos ter diante desse enorme nó.

R: Ao pensar na forma como a situação muda drasticamente, qualquer pessoa que seja se sente insegura, sem saber como será daqui a um mês. Mas isso também é um trabalho de Deus-Parens. Nós, que temos consciência disso, devemos pensar sempre de forma positiva. Por isso, temos que ser moderados, para não ter um comportamento que cause mais insegurança à sociedade. Dessa forma, a Sede da Igreja tem tomado medidas de precaução, solicitando aos seguidores em geral absterem-se de reverenciar as Cerimônias Mensais da Sede.

Se porventura acontecer algo, o ser humano tem a tendência de suspeitar das pessoas ao redor, de procurar o culpado, pensando de forma negativa. No entanto, se direcionarmos o olhar para nós mesmos, poderemos refletir de maneira mais positiva.

Aquele pensamento de achar normal o fato de as pessoas se reunirem na igreja para realizar o Serviço Sagrado pode ser reformado para aquele em que vai se esforçar mais para purificar o espírito. Pode-se pensar de forma positiva, como sendo uma oportunidade para fazer com que do nó surja o broto.

É possível aceitar esse enorme nó como uma “época para a própria evolução espiritual”. Penso que devemos estabelecer firmemente em nosso espírito que conseguimos fazer isso em razão da força de nossa fé e da gratidão que sentimos.

A primeira coisa que devemos fazer, é solicitar, com seriedade, a pacificação deste mundo tomado pelo medo e pela insegurança. Além disso, para superar este nó de modo positivo, devemos ter total confiança no amor parental de Deus-Parens sem se deixar levar pela insegurança. Ainda, devemos determinar, mais uma vez, o espírito de salvação e avançar com passos firmes na disseminação da salvação mútua entre todos os irmãos do mundo. Além disso, devemos ser um yoboku que transmita palavras de incentivo que façam com que o espírito das pessoas volte a ficar alegre e animado. Acredito que, neste momento, esse é o esforço que se espera de nós, seguidores deste Caminho.

Muito obrigado!