Marina Kiyoko Ikebe
Nesta linda manhã de abril, realizamos a cerimônia mensal de abril do Dendotyo do Brasil, com muita alegria e dedicação, e, este mês, também comemoramos o aniversário dos 227 anos natalícios de Oyassama. É um mês de grande importância para todos nós deste Caminho.
Estar aqui neste recinto sagrado para palestrar é um misto de sentimentos que não sei descrever. Estou ansiosa, nervosa e por demais emocionada!
Ao participar da cerimônia mensal e poder ver a grandiosidade e a beleza deste espaço, não há como não lembrar de nossos antepassados que fizeram parte da construção e história do Dendotyo do Brasil.
Minha avó, Sada Isogawa, fez parte desta história. Ela viu cada tijolinho ser empilhado. E não foi apenas ela; muitos dos avôs e avós de muitas famílias que aqui se encontram, também foram importantes para que hoje estivéssemos aqui presentes.
Originalmente, foi o sonho do primeiro primaz, reverendo Chujiro Otake, e de seus precursores. Na época da construção deste recinto de reverência, foram todos eles que deram sangue e suor, foram incansáveis meses e anos de hinokishin e distantes de suas residências e famílias.
O que os movia era a fé. Mas, que fé era essa?
Minha avó era daquelas Yoboku que lágrimas escorriam de emoção ao entoar o Hino Yorozuyo. Não foi assim com os seus avós? Ao ler trechos dos episódios da vida de Oyassama, da vida-modelo, a voz ficava embargada e os olhos marejados de lágrimas de tanta gratidão! Tenho certeza de que muitos dos aqui presentes se identificam comigo. Pois há uma história similar em cada família.
Muitas vezes, eu, ainda bem nova, também era solicitada a fazer o plantão na cozinha. Chegando aqui, não havia tempo para respirar; essa é uma verdade. Dendro da cozinha, o serviço era muito atarefado; alimentar todos que vinham fazer hinokishin era uma tarefa árdua. Percebia também que não havia recursos financeiros suficientes para comprar os mantimentos. Habilidosas, as senhoras da cozinha tinham que fazer mágica.
Lembro-me que, em um desses dias de escassez, chegaram na cozinha sacos cheios de folhas de repolho. Fiquei intrigada com o aparecimento repentino desses sacos que logo eram preparados: salada de repolho, repolho refogado, tudo tinha repolho. Curiosa com aquilo, descobri que a dona daquela façanha era minha batyan (avó). Ela acordava às 3 horas da manhã e ia na feira próxima do Dendotyo. Lá, ajudava um feirante japonês a descascar e limpar os repolhos para colocá-las nas bancas. Em troca, ela pegava as folhas descartadas. Colocava em sacos e levava-as para o Dendotyo. Esta era a razão de comer tanto repolho.
Eram épocas difíceis. Quem não se lembra também das sardinhas salgadas!
Mas, sabem que, frequentemente, me lembro com saudades daquele tempo, em que não havia muita coisa, mas comia com tanto prazer o oniguiri (bolinho de arroz) com lascas de peixe salgado!
Também não me esqueço de momentos com a minha batyan. Certo dia, já estava quase dormindo e, na época, o quarto era no porão abaixo do palco do atual salão Yorokobi. Minha avó vinha me cutucando os pés de mansinho e me dava um embrulho de papel de pão. As meninas que estavam comigo foram atraídas pelo cheiro. Qual a nossa surpresa. Ao abrir o pacotinho, eram toquinhos de mortadela, rebarbas. Acredito que era o que a minha avó tinha de mais precioso para dar pra mim. Hoje, fico completamente emocionada ao relembrar desses momentos. Ela se preocupava com a minha fome noturna; meu afeto e admiração por ela só aumentava.
Outras vezes, procurava por ela na refeição e não a encontrava na mesa. Depois de muito procurar, encontrava-a raspando uma panela de arroz. Ela colocava chá na panela e raspava o fundo; era isso que ela almoçava prazerosamente.
Outras vezes, ela chegava com um pratinho embrulhado com oniguiri feito com o arroz queimado, retirado do fundo da panela. Ela temperava com molho com shoyu e trazia para mim. Tinha tanto amor no preparo daquele oniguiri que me lembro do gosto até hoje. Chego a salivar só de lembrar...
Que lição devemos tirar de tudo isso? Todos os nossos antepassados trabalharam e se dedicaram muito para que pudéssemos desfrutar do Dendotyo de hoje. Também para receber cada vez mais pessoas, para conhecerem o maravilhoso ensinamento de Oyassama.
Mas, o que nós estamos fazendo para honrar os nossos antepassados?
Sabiam que cada um de nós tem 2 pais, 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavós, 32 tetravós, e assim sucessivamente. Em 12 gerações teremos 4.096 antepassados. Por isso, é preciso saber honrar os respectivos antepassados, que são os responsáveis pela existência do Caminho atual.
Daí a importância participar dos cursos doutrinários, para poder divulgar o ensinamento de Oyassama e expandi-lo para todas as pessoas ao redor, convidando-as a conhecer a Sede Dendotyo. Aqui é um lugar mágico, onde cegos enxergam, paraplégicos andam, surdos ouvem. Esse Dendotyo será possível se todos se comprometerem a acolher amorosamente, todas as pessoas sem discriminação, com a atitude de: Somos todos igualmente irmãos. Assim, seremos os olhos das pessoas cegas, as pernas dos paraplégicos e ouvidos daqueles que não ouvem! Isso se chama inclusão!
Então, vamos amar incondicionalmente as pessoas e reconhecer nelas os vínculos de irmandade. Vamos exercer os ensinamentos de Oyassama na prática; amar e salvar o próximo, sem preconceito e discriminação. Vamos recebê-los com acolhimento e ser portador a voz da Oyassama!
Também, vamos honrar e nos comprometer diante de nossos antepassados em dar continuidade ao trabalho de divulgar o maravilhoso ensinamento de Deus-Parens e Oyassama. Obrigada pela sua atenção!
*é condutora da Igreja Daihakuyo