Olá. Meu nome é Guilherme Massashi Tanaka, sou Yoboku da Igreja Marialva e tenho 35 anos. No ano de 2020, eu recebi o diagnóstico de depressão e transtorno explosivo intermitente, dois tipos de transtornos psicológicos. Hoje, gostaria de compartilhar com vocês de que forma eu entendo essas doenças do ponto de vista da Tenrikyo.

É importante ressaltar que eu só tive força para refletir sobre a minha situação com ajuda profissional médica e psicológica. Se você estiver passando por alguma dificuldade parecida com a minha, procure ajuda profissional. 

A depressão é uma doença mental que gera alterações no humor, voltadas, principalmente, aos sentimentos de tristeza. O TEI, transtorno explosivo intermitente, é um distúrbio que gera comportamentos agressivos, com acessos de raiva descontrolada motivadas por situações corriqueiras. Ambos são considerados transtornos mentais, assim como ansiedade, bipolaridade e vários outros. 

Na Tenrikyo, é ensinado que Deus-Parens criou os seres humanos para que todos possam viver a vida plena de alegria e felicidade, ajudando uns aos outros. Para isso, Deus nos empresta este corpo e nos concede a vida. Também, Deus nos concede a liberdade espiritual para usarmos este corpo de forma livre. No entanto, quando usamos este corpo emprestado de forma contrária à sua intenção original, Deus-Parens nos orienta por forma de doenças e problemas no dia a dia, para que possamos refletir sobre nosso uso espiritual.

Quando temos alguma doença no corpo, por exemplo, uma gripe forte, não conseguimos sair da cama e nos movermos como gostaríamos, perdemos o olfato e deixamos de desfrutar dos alimentos que mais gostávamos. Sentimos na pele que este corpo não é algo que podemos controlar e, assim, conseguimos cultivar o sentimento de gratidão por quando usamos este corpo livremente.

Porém, o que me aconteceu quando tive esses transtornos mentais? “Pensando somente com a cabeça, eu tenho tudo para estar mais grato, ser mais feliz, porém, os meus sentimentos não são esses.” “Eu entendo que deveria fazer isso, mas não consigo.” “Eu não tenho um motivo concreto para estar com raiva, mas não consigo me livrar desse sentimento.” 

Nessas horas, eu me questionava se havia perdido a minha “liberdade espiritual”, se havia perdido a habilidade de pensar e sentir as coisas de forma livre. Se não penso e sinto da forma como eu gostaria que fosse, como poderia limpar as minhas poeiras espirituais? Como eu poderia decidir usar o espírito de forma a contentar Deus, ajudando os outros, e buscando pela vida plena de alegria e felicidade?

Ao me questionar, certa vez, li uma explicação: 

“Quando acumulamos as poeiras e deixamos de limpá-las, essas poeiras vão se incrustando no espírito e deixamos de usar o espírito que, originalmente, usamos de forma livre. Mesmo que nós estejamos decididos a limpar o espírito e não acumular mais poeiras, essas poeiras não desapareceriam imediatamente, e sentimentos ruins continuariam a aparecer.

Para que possamos receber a salvação de uma doença da mente, não somente é necessário o esforço de não acumular mais poeiras espirituais, mas a persistência de limpar essas poeiras que acumulamos por muito tempo e estão incrustadas no espírito.”

No meu caso, quando percebi que estava perdendo a liberdade do uso espiritual, logo procurei por ajuda profissional. Com a ajuda de medicamento e terapia, os sentimentos de tristeza, melancolia e raiva já não tomam conta totalmente de mim. Esses sentimentos continuam aparecendo; porém, passado um tempo, eu consigo me acalmar e refletir sobre meus pensamentos, sentimentos e atitudes diárias. Assim, aos poucos, vou limpando o meu espírito. 

Pode ser que eu venha acumulando essas poeiras desde vidas passadas, e sei que terei que continuar limpando essas poeiras por toda a minha vida. Mesmo assim, sou grato por, pelo menos, ter conseguido perceber isso, e ter uma rede de suporte que me permite tentar melhorar dia após dia.