Rev. Zensuke Nakata



Entrevista com o Rev. Zensuke Nakata

Diretor-Geral Administrativo da Sede da Igreja

Entrevista publicada na edição de maio de 2021, na Revista Miti no Tomo

No dia 30 de março, o Diretor-Geral Administrativo, Zensuke Nakata, concedeu entrevista ao Diretor do Departamento de Divulgação, Tomikazu Matsumura, na qual, tendo como base a palestra realizada em 27 de agosto de 2020, “Sobre como seguir o Caminho de agora em diante”, deu um direcionamento mais concreto, avançando mais um passo adiante.


Sobre como seguir o Caminho de agora em diante

Dar uma nova partida almejando a imagem de igreja dedicada à sincera salvação


Primeiramente, como diretor geral administrativo, gostaria que relatasse o seu pensamento atual.

Devido ao novo coronavírus, o mundo inteiro está numa situação extremamente complicada, e nós, seguidores deste Caminho, tivemos ainda uma sequência de fatos sobre os quais devemos refletir seriamente, como o incidente do Kanrodai e o incômodo mostrado no corpo do Shimbashira. Penso que a difícil situação mundial causada pelo coronavírus não é nada mais que a expressão do trabalho de Deus-Parens.

Quando pensamos nessas situações de forma combinada, para superar e dar significado a esse nó, devemos verificar atentamente o que passamos até hoje, refletir sobre o que tem que ser refletido, e seguir com o sentimento de dar uma nova partida.

Refletindo sobre a própria fé e sobre a igreja, será que a forma como viemos passando até aqui, acreditando ser a mais correta, estava realmente correta? Será que não acabamos nos esquecendo daquilo que é importante? Acredito que haja muitas coisas sobre as quais devemos refletir. Considerando também a imagem atual do Caminho, creio que todos devemos ter o forte sentimento de dar uma nova partida, com os espíritos unidos.

Sobre dar uma nova partida, que tipo de coisa o senhor pensa, concretamente?

Oyassama nos ensinou que este é o Caminho para “salvar os próximos”. O caminho da dedicação sincera à salvação é onde se põe isso em prática e é o caminho que todos nós devemos seguir. A respeito disso, não há nenhuma mudança. No entanto, tenho percebido que, na conjuntura atual do Caminho, as oportunidades para praticar a salvação estão diminuindo. No Caminho como um todo, devemos procurar aumentar as oportunidades para praticar a salvação. Para isso, acredito que seja necessário um aumento no número de pessoas que pratiquem a salvação. No mundo, existem muitas pessoas que estão passando por situações difíceis, que estão desoladas com os incômodos físicos ou angustiadas com seus problemas. Penso que é importante se dedicar voltando os olhos a esse cenário.

Ainda, falando em termos de tempo, daqui a 15 anos, teremos a celebração dos 150 anos do ocultamento físico de Oyassama. Como já mencionei em outras oportunidades, devemos fixar agora o nosso objetivo, determinar a imagem a ser almejada e caminhar de modo que consigamos concretizar esse ideal. Para isso, também, devemos pensar tendo a salvação como ponto central.

Dentre os condutores de igreja, ao ouvirem sobre daqui a 15 anos, pode haver quem pense que já não diz respeito a si. O que o senhor pensa a respeito desse ponto?

Isso é compreensível pois eu também entro nessa faixa etária e não sei se ainda estarei trabalhando com saúde daqui a 15 anos. Entretanto, esquecendo um pouco essa parte física, o importante aqui é idealizar a imagem que a igreja que está sob sua responsabilidade terá daqui a 15 anos. Pensando em como deseja que a igreja esteja daqui a 15 anos, o importante é caminhar firmemente durante esse tempo de modo que o objetivo possa ser concretizado.

Desejo que compartilhem esse objetivo de daqui a 15 anos com todos os fiéis ligados à igreja, a começar pela família do condutor, e que possam, juntos, buscar concretizá-lo com o sentimento animado. Penso que a função de todos nós, como condutores de igreja, é liderar as ações para concretizar esse objetivo.

Por favor, fale-nos sobre o significado de fixar o decenário de Oyassama como meta.

Oyassama ocultou o seu corpo em 1887 e disse: “começo a salvação a partir de agora”. Oyassama está sempre incentivando a todos nós, que nos dedicamos sinceramente à salvação. Por isso, tomando o nó de 1887 como algo próprio dentro de nosso espírito, é importante trabalhar concentradamente na época do decenário para poder corresponder às expectativas da Oyassama.

Nos marcos importantes de cada da igreja, realiza-se a troca de condutor ou a cerimônia comemorativa, mas o decenário de Oyassama é um marco precioso, uma época oportuna comum a todas as pessoas do Caminho, em que todos recebem a mesma brisa da época oportuna e caminham ajudando-se uns aos outros.

O senhor falou sobre a “dedicação sincera à salvação” com vistas a uma nova partida. Em janeiro, na palestra voltada aos condutores das igrejas-mor e diretores das regionais, foram mencionadas três diretrizes.

1. Desenvolver atividades de salvação voltadas às pessoas que buscam a salvação.

· ajudar as pessoas que estão em situação complicada;

· desenvolver atividades de salvação ao próximo e contribuição à sociedade com espírito de Hinokishin.

2. Aprender e assimilar o Ensinamento.

3. Cuidar e dedicar-se atenciosamente.

Poderia, por favor, falar sobre estas diretrizes?

Há pouco, falei sobre ter os 150 anos do ocultamento físico de Oyassama como objetivo, mas antes disso, daqui a cinco anos, teremos os 140 anos do ocultamento físico de Oyassama. Ou seja, daqui a dois anos, começaremos as atividades dos três anos, mil dias rumo a essa celebração. Durante esses dois anos, desejo que todas as igrejas idealizem a imagem concreta que querem ter daqui a 15 anos e incentivem a concretização dessa imagem tendo como ponto central a prática da salvação. Para isso, gostaria de conversar sobre essas três diretrizes com todos os senhores, que são condutores de igreja, de modo que cada igreja, cada condutor, possa pôr isso em prática tendo uma imagem concreta definida, buscando a sua concretização.

Sobre a primeira diretriz, “desenvolver atividades de salvação voltadas às pessoas que buscam a salvação”, o que seria isso de forma concreta?

A execução do “Serviço” e a ministração do “Sazuke” são ensinadas como importantes atividades da igreja, e só se consegue aprimorá-las quando há a prática efetiva da salvação.

Quando pensamos no cenário atual das atividades de salvação nas igrejas, acredito que a maior parte se direciona aos seguidores e aos Yoboku que frequentam a igreja. Por se tratar de uma atividade de salvação importante da igreja, nem é preciso dizer que deve ser praticada com atenção e dedicação. Em complemento a isso, desejo que tenham o pensamento de praticar ativamente a salvação com os olhos voltados à sociedade, às pessoas que não seguem a fé deste Caminho. Em relação à salvação das pessoas que não seguem esta fé, é inevitável dizer que o Caminho atual está em ritmo lento.

Dentro da caminhada desde a revelação divina, as pessoas do Caminho vieram encarando de frente todos os tipos de dificuldades, dedicando-se altivamente à salvação das pessoas que sofriam dos males de cada época. É justamente por isso que, agora também, estando claramente cientes da diretriz de “desenvolver atividades de salvação voltadas às pessoas que buscam a salvação”, desejo fazer isso de forma concreta.

Nessa primeira diretriz, são citados dois pontos específicos: “ajudar as pessoas que estão em situação complicada” e “desenvolver atividades de salvação ao próximo e contribuição à sociedade com espírito de Hinokishin”. Qual o propósito de acrescentar esses pontos?

Esses dois pontos nada mais são do que a porta de entrada para iniciar a salvação, um meio para buscar a conexão com as pessoas a serem salvas. Por isso, gostaria que entendessem não há a necessidade de ser exatamente dessa forma.

Se comparar a época atual com épocas anteriores, veremos que o nível de vida melhorou drasticamente e a consciência sobre as coisas que se busca na vida cotidiana também mudou. Com o avanço da medicina e do sistema de seguridade social, acredito que ficou mais difícil de enxergarmos as pessoas que buscam a salvação. Antigamente, eram numerosas as pessoas que, encontrando-se numa situação complicada, buscavam a salvação através da Tenrikyo ou de outras religiões, mas atualmente, além das religiões, existem muitas outras janelas onde se pode buscar ajuda. Além dos órgãos governamentais, as instituições médicas e as instituições de assistência social cooperam mutuamente, usando a criatividade e desenvolvendo cada vez mais formas de chegar às pessoas em dificuldade. Se essa é a situação da sociedade, nós também podemos cooperar com essas instituições e, assim, podemos ter a conexão com as pessoas que estão passando por dificuldades.

Mesmo com o avanço da medicina e do sistema social, muitas pessoas ainda estão passando por dificuldades e angustiadas por problemas físicos e circunstanciais, sem saberem como será o dia de amanhã. Isso é algo que não muda desde antigamente. Creio que não sejam poucos os casos em que, justamente por se tratar de uma igreja da Tenrikyo, as pessoas podem receber a salvação.

As “pessoas que estão numa situação complicada”, aqui mencionadas, referem-se, logicamente, às pessoas com problemas físicos e circunstanciais, mas referem-se, também, às pessoas que estão passando por dificuldades de uma forma geral, que necessitam de auxílio e apoio após caírem numa situação complicada econômica e socialmente. Devemos pensar em meios para encontrar as pessoas que estejam nessas situações ao redor de nossas igrejas.

Ao mesmo tempo, hoje, as pessoas da sociedade estão extremamente interessadas em atividades voluntárias e de assistência social, trabalhando de forma bastante ativa. Penso que seria interessante os condutores e os Yoboku pensarem em participar ativamente desse círculo de salvação promovido pela sociedade. Entendo as opiniões de que as atividades sociais e voluntárias são diferentes das atividades de salvação e Hinokishin do Caminho. No entanto, ficando presos ao conceito das palavras, pode ser que, na realidade, as pessoas do Caminho não estejam conseguindo se encaixar nesse círculo de salvação criado pela sociedade.

Ao ouvir a explanação que o senhor fez agora, pode ser que haja pessoas que perguntem se é para darmos ênfase às atividades de assistência social a partir de agora. O que o senhor pensa sobre isso?

Entendo essa pergunta, mas essa questão que está numa outra dimensão. O que estou dizendo aqui é que, criando uma relação com as pessoas da sociedade e da localidade, podemos obter as oportunidades de salvação buscando ativamente a conexão com as pessoas que desejam a salvação.

No entanto, o que não pode ocorrer é que, em virtude da participação das atividades de assistência social, a função da igreja como local de salvação e as atividades essenciais da igreja fiquem comprometidas ou deixadas em segundo plano. A nossa salvação consiste em solicitar a salvação buscando, até onde for, as providências de Deus-Parens. Assim, penso que isso deve ser transmitido sem equívocos. Ou seja, através do “Serviço”, do “Sazuke” e da “explanação”, deve-se transmitir o Ensinamento e guiar para o caminho da salvação, solicitando as providências de Deus-Parens. Por ser essa a prática da nossa salvação, temos que cuidar para que não haja erros de compreensão.

Para conseguir a conexão com as pessoas que buscam a salvação, o importante é a proatividade na nossa atitude. Não podemos ficar parados, à espera daqueles que buscam a salvação.

É a mesma coisa de quando realizamos a divulgação de porta em porta ou a oratória de rua. Em adição à forma de divulgação que viemos realizando até hoje, devemos buscar a conexão para a salvação de forma concreta e proativa, aumentando, dessa forma, as oportunidades de salvação.

O que seria o segundo ponto mencionado: “desenvolver atividades de salvação ao próximo e contribuição à sociedade com espírito de Hinokishin”?

Por exemplo, acredito que são muitas as pessoas residentes em igrejas que realizam frequentemente as atividades de limpeza em frente à igreja e na vizinhança. Ainda, há muitos fiéis do Caminho que se dedicam ativamente na sociedade como líderes da comunidade, como responsáveis das associações de pais e mestres das escolas, e ainda, recebendo a confiança das entidades governamentais, dedicam-se como oficiais de liberdade condicional e orientadores religiosos do sistema prisional, cumprindo com excelência esses trabalhos.

Na Doutrina de Tenrikyo, temos: “Hinokishin é a manifestação da alegria de uma fé ardente e assume as mais variadas formas”. Como é ensinado aqui, Hinokishin é a atitude e o espírito de trabalhar com alegria e gratidão em todas as coisas, sem relutar em ceder esforço espiritual e físico.

Nós, que seguimos a fé deste Caminho, temos a “atitude de hinokishin” incorporada em nosso corpo. Acredito que são muitas as oportunidades em que, através da imagem e da atitude de Hinokishin, ganhamos a confiança das pessoas da localidade. Cada localidade tem os seus problemas peculiares. Se as pessoas do Caminho se envolverem ativamente na solução desses problemas com o espírito de Hinokishin, que é a sua principal característica, é possível contentar as pessoas da localidade. Temos que trabalhar ativamente para fazer brotar essas ações. A partir desse ponto de vista, é possível criar conexões para a salvação.

Usando como porta de entrada “ajudar as pessoas que estão em situação complicada” e “desenvolver atividades de salvação ao próximo e contribuição à sociedade com espírito de Hinokishin”, podemos pensar em desenvolver as atividades da igreja, não é mesmo?

Para a sociedade, as atividades de salvação e Hinokishin que realizamos são como ações voluntárias e atividades de assistência social. Creio que não há problema nisso.

Como venho dizendo, são apenas formas de se criar uma conexão com as pessoas. O essencial é pensar de que forma se pode realizar a salvação. É nesse ponto que devemos focar. Primeiramente, gostaria que pensassem, de forma concreta, que tipo de salvação é capaz de realizar, qual a salvação que deseja realizar.

Como podemos obter informações sobre “as pessoas que buscam a salvação”?

Acredito que seja possível obter esse tipo de informação, sobre as conexões para a salvação ou as portas de entrada para a salvação, no Departamento de Divulgação da Sede.

Por exemplo, atualmente, há um aumento de atividades conhecidas como “refeitório das crianças” ou “tutela de menores”, e existe uma rede de conexão relacionada a isso. Há também redes de conexão entre pessoas que desenvolvem diversas atividades de salvação. Acredito que conhecer essas redes pode se tornar uma referência de ajuda.

Ainda, nos governos regionais, há também um sistema de apoio às pessoas que efetivamente necessitam de auxílio. No entanto, como os governos não têm a força suficiente para atender à demanda, busca-se a cooperação de cidadãos que podem prestar auxílio. Existem, também, diversos conselhos de assistência social e entidades sem fins lucrativos que servem como janelas de atendimento às pessoas que estão em situação de risco. Nesses locais, podemos encontrar informações e ouvir a voz das pessoas que buscam a salvação. Assim, podemos ir a esses locais, oferecer a nossa cooperação e dedicar-se à salvação, ganhando a confiança das pessoas da comunidade. Penso que isso também é uma forma de obter as informações.

Isso quer dizer que, para encontrar as pessoas para salvar, cada igreja deve buscar as conexões através de diversas formas, correto?

O nosso Caminho possui uma maravilhosa base que veio sendo acumulada até hoje. Como disse há pouco, a atitude de Hinokishin se conecta à confiança da sociedade, e ainda, de uns anos para cá, o “Corpo de Hinokishin de auxílio às vítimas de calamidades” tem recebido um grande reconhecimento da sociedade. Creio que só conseguimos obter esses resultados porque temos como base o ensinamento de Oyassama, a atitude de salvação e a atitude do Hinokishin. Penso que todos nós devemos estar cientes desses fatos. Creio que é importante que todas as igrejas tomem ações de forma concreta, com iniciativa própria e confiança, pensando na salvação que cada um é capaz de realizar.

Cientes da força latente que este Caminho possui, devemos agir proativamente, voltando os olhos à salvação das pessoas que estão em dificuldade e trabalhando para que a igreja se torne o local da salvação, certo?

O Caminho existe hoje graças aos veteranos, que se dedicaram durante longos anos, com todo empenho e seriedade. Mesmo hoje, ouvimos da sociedade expressões como: “a Tenrikyo recebe qualquer tipo de pessoa, cuidando amavelmente de todos”; “dedica-se em prol do próximo sem querer nada em troca”; “Tenrikyo é sinônimo de Hinokishin”. Entretanto, honestamente falando, a realidade é que essa boa imagem vem se enfraquecendo ano a ano. Acredito que há vários motivos para isso, mas pode-se citar como exemplo a diminuição das ações de salvação e a falta de ânimo na salvação. Diante desse cenário, tenho a impressão de que está surgindo uma situação em que estamos inibindo o amadurecimento da fé dos jovens. Penso que, para podermos construir a base para a formação da fé dos jovens, é necessário intensificar as ações de salvação e fazer surgir cada vez mais, dentro do Caminho, a imagem animada das pessoas no Hinokishin.

Fale-nos sobre a segunda diretriz, “Aprender e assimilar o Ensinamento”.

O conteúdo a ser transmitido e os critérios de decisão para avançar os passos na salvação, com certeza, encontram-se na doutrina e na vida-modelo de Oyassama.

Temos como ponto de apoio o Ensinamento, em que não há, absolutamente, nenhum erro, e a vida-modelo de Oyassama. Justamente por termos essas referências é que podemos dar passos firmes e fazer a ligação com a salvação das pessoas que estão desnorteadas ou sem saída.

Ainda, com base na doutrina e na vida-modelo, a fundação fica firme e os erros não ocorrem. Nem é preciso dizer que, antes de tudo, o condutor de igreja deve estar com o Ensinamento bem assimilado dentro de si, esforçando-se diariamente na sua prática.

O que eu sempre faço é imaginar que estou vivendo na mesma época em que Oyassama trabalhava presente fisicamente. Ao olhar para a minha imagem atual, o que Oyassama diria? Pensando nisso, procuro verificar no que ainda preciso melhorar.

Ainda, quem concede a salvação é Deus-Parens, e é por termos o trabalho divino que recebemos as graças. O nosso trabalho de salvação não tem resultado se não tivermos o trabalho de Deus-Parens, que é concedido quando a sinceridade de nosso espírito é aceita por Ele. Não se recebe a graça conforme o desejo, e sim, conforme o espírito.

Receber os trabalhos de Deus-Parens depende do quanto estamos conseguindo nos dedicar. Sem errar na compreensão desse ponto, deve-se ter em mente que é recebendo as providências divinas que a igreja irá se iluminar e brilhar.

Para isso, também, é importante verificar, mais uma vez, o quanto da doutrina cada um tem assimilado dentro de si. A fé é algo que deve se desenvolver conforme a idade e, por isso, não podemos permanecer com as mesmas reflexões de quando éramos jovens. Assim, em diversas oportunidades, por excesso de confiança, podemos não perceber que estamos transmitindo o Ensinamento de forma equivocada. Não há nada mais perigoso do que o excesso de confiança, dizendo, sem consciência, que sabe de tudo. Devemos sempre buscar o ensinamento de Deus-Parens com o espírito e a postura humilde, procurando ser rigoroso consigo mesmo.

Penso que devemos verificar, em cada ocasião, se não estamos interpretando a doutrina de modo próprio ou se a interpretação não está demasiadamente ampla.

Acredito que transmitir o Ensinamento às pessoas é algo difícil. Quais os cuidados que os condutores de igreja devem ter para fazê-lo?

Isso se liga com o ponto seguinte, que é “cuidar e dedicar-se atenciosamente”. Comparando com o passado, acredito que diminuíram as oportunidades para o condutor de igreja transmitir sobre a doutrina às pessoas. Mesmo ministrando o Sazuke, são muitos os casos em que não se consegue transmitir algumas palavras do Ensinamento.

Quando fazemos alguma palestra ou conversamos sobre o Ensinamento, será que não estamos falando apenas aquilo que queremos, sem nos preocupar com o nível de fé e de compreensão da outra parte? Apesar de ser uma importante função do condutor de igreja fazer fluir a razão e transmitir o Ensinamento, penso que é necessário usar a criatividade e se esforçar, usando palavras de fácil compreensão, mantendo uma postura correta. Creio que seja importante se esforçar cotidianamente para incorporar essa atitude.

Fale-nos sobre a terceira diretriz, “cuidar e dedicar-se atenciosamente”.

Pensando renovadamente sobre cuidado e dedicação, creio que temos que concentrar mais e mais a nossa força e o nosso espírito a isso, de forma atenciosa. Na verdade, hoje, creio que está faltando a “força em cuidar”.

Será que não estamos pensando em cuidar de todos os Yoboku e fiéis da mesma forma? Será que não estamos esperando que os Yoboku e os fiéis tenham a mesma função dentro da igreja? Por exemplo, mesmo que um fiel ainda não participe da escala do Serviço da cerimônia mensal, ele pode vir fazer a reverência. Contudo, temos que verificar se o ambiente da igreja é favorável para ela poder vir e reverenciar. O ideal é que a pessoa vá conhecendo aos poucos o Ensinamento, vá nutrindo gradativamente a fé e, depois que começar a pensar sobre a fé com mais intimidade, ela possa se tornar um dos servidores do Serviço. No entanto, sinto que, muitas vezes, o desejo de que ela se torne logo um dos servidores do Serviço acaba ficando muito aparente.

Se ficar preso a um modelo, dizendo que o cuidado e dedicação tem que ser dessa forma, ou que a formação do Yoboku tem que ser daquela forma, pode até ocorrer de perder de vista aquilo que é necessário para a evolução da pessoa, uma vez que as circunstâncias de cada um são diferentes: a idade, o sexo, o motivo de ter ingressado na fé, a situação atual, o histórico de doenças, se mora próximo ou se mora longe da igreja.

Com certeza, o importante é lembrar do rosto de cada pessoa e tratá-la com a postura de compreender as circunstâncias e condições em que ela se encontra. Através disso, nascerá uma relação de confiança entre ambos, e também, surgirá um ambiente favorável para que ela possa falar sobre suas angústias.

Como pensa em relação ao cuidado e dedicação às pessoas que moram distantes da Igreja?

Em comparação com o passado, a mudança de moradia se tornou mais frequente e não são poucos os Yoboku que moram distante da sua igreja. Essa situação também pode ser vista em relação aos nossos filhos. Por isso, devemos procurar nos comunicar atenciosamente através de cartas ou de e-mails, e nem é preciso dizer que devemos procurar cuidar e nos dedicar a elas indo até suas residências. Entretanto, no que diz respeito à distância, há locais que são mais difíceis de ir. Nesses casos, mesmo nesses locais distantes, existem outras igrejas. Por isso, é possível orientar para a pessoa conduzir-se a essa igreja, conduzindo o seu espírito à fonte de Deus-Parens. Fazendo bom uso desses meios, desejo que trabalhem utilizando a criatividade para nutrir a fé dessas pessoas, orientando-as para que possam levar uma vida cotidiana sentindo-se próximos da existência de Deus-Parens. Hoje em dia, penso que isso é algo necessário.

Gostaria de dizer mais alguma coisa sobre cuidar e dedicar-se?

Eu disse que poderíamos utilizar o sistema de assistência social para se criar uma conexão com as pessoas que buscam a salvação, mas temos que saber que a finalidade da assistência social é claramente diferente do objetivo que buscamos na salvação das pessoas.

Acredito que a atividade de assistência social tem como objetivo ajudar as pessoas a saírem da situação crítica em que se encontram, apoiando-as para que possam se recuperar socialmente e possam se tornar independentes novamente. Na fase inicial, as nossas atividades de salvação almejam a mesma coisa. Primeiro, é importante que a pessoa possa sair dessa situação difícil de dor, sofrimento e angústia. Mas para nós, isso é apenas a porta de entrada para a verdadeira salvação.

Para nós, o importante é buscar as orientações de Deus-Parens que se encontram na raiz de tudo isso. A nossa salvação consiste em trabalhar com diligência para que a pessoa possa limpar as poeiras espirituais e ter o espírito salvo. Além disso, conscientizando-se da predestinação que está na raiz dos problemas, que ela possa trabalhar para extingui-la, solicitando não apenas a própria salvação, mas também a salvação que se estenda aos filhos e netos. Por trabalhar até esse ponto, é imprescindível cuidar e se dedicar com a máxima atenção na busca da salvação das pessoas. Isso não é algo que se desenvolve da noite para o dia. É necessário o cuidado e a dedicação acumulando os anos.

Oyassama, que orientava e ensinava as pessoas através da boca, da ponta do pincel e de suas atitudes, dedicou-se incansavelmente a elas com espírito atencioso. Essa é a nossa vida-modelo. Por isso, temos que observar bem as pessoas que buscam a salvação e, além disso, perceber o momento certo para a salvação, cuidar e dedicar-se atenciosamente, preocupando-se com todos os detalhes. Creio que é nisso que devemos dedicar um esforço maior.

Para que as pessoas tenham o espírito salvo através das nossas ações de salvação, devemos, nós mesmos, estabelecer o Ensinamento firmemente no espírito e, além disso, devemos cuidar e nos dedicar atenciosamente à pessoa, acompanhando-a até que ela recebe a salvação do espírito, certo?

Por último, há mais alguma coisa que deseje transmitir aos condutores de igreja, para que tenham como disposição espiritual?

Ainda há muitas coisas, mas desejo que, tendo em mente a função e a posição do condutor de igreja, estabeleçam firmemente no espírito a importância de se ligar a Jiba. Essa é uma função requerida dos condutores de igreja que se diferencia da dos Yoboku e fiéis em geral.

Mas qual é o significado que tem o fato de o condutor de igreja ligar o espírito a Jiba? Os Yoboku e fiéis recebem a razão de Jiba e são banhados pelas providências divinas através das igrejas situadas nas diversas localidades. Por isso, os condutores de igreja devem desempenhar o papel do duto que faz fluir a razão de Jiba. Essa é a grande função dos condutores de igreja. Por isso, os condutores de igreja devem ter a firme disposição de conduzir-se e dedicar o espírito de sinceridade a Jiba. Acredito que isso é o que nós, condutores de igreja, temos que ter sempre em mente. Ainda, creio que devemos fortalecer isso ainda mais através da ligação com as igrejas da mesma linhagem.

Na Indicação Divina, é ensinado:

“Havendo a razão da Sede, existe a razão das igrejas, é o mesmo fio de respiração. Se não estabelecerem este espírito único, o céu não trabalhará.”

I.D. de 13 de dezembro de 1906

Afirma que Jiba e as igrejas possuem o mesmo fio de respiração e, se a Jiba e as igrejas se moverem com o mesmo fio de respiração, com certeza, Deus-Parens concederá os seus trabalhos. Esse é, realmente, um ponto importante para as ações da igreja e para que se possa receber as providências divinas. Como condutor de igreja, é o ponto vital, é algo que se deve ter sempre em mente.

Acredito que os condutores de igreja têm muitas preocupações. Apesar disso, mesmo que haja situações fora do próprio alcance, não se deve desvalorizar ou depreciar a própria igreja e nem é necessário ficar inibido. Se houver pontos fora de alcance, basta se esforçar e trabalhar para conseguir alcançá-los, avançando com autoconfiança.

Desejo que a igreja dos senhores possa se iluminar e brilhar nas localidades em que se encontram. Visando ser a academia da salvação e tendo em mente a imagem concreta idealizada para a igreja daqui a 15 anos, desejo que se esforcem animadamente a fim de avançar, um pouco que seja, rumo à concretização desse ideal.