Entrevista especial



Entrevista com o Rev. Yoichiro Miyamori

Diretor de Assuntos Religiosos da Sede da Igreja

Entrevista concedida à Revista Miti-no-Tomo, publicada na edição de junho de 2020

Sobre o enorme nó do novo coronavírus

Amparar-se firmemente no Parens, cultivar e nutrir o espírito de amabilidade e alegria

P: Quais medidas de prevenção a Sede da Igreja tomou em relação a esse enorme nó?

R: Primeiro, gostaria de manifestar sinceramente as minhas condolências às pessoas que perderam as suas vidas devido ao vírus por todo o mundo, e para as pessoas que estão infectadas com o vírus, solicito a Deus-Parens e Oyassama, juntamente com todos os seguidores, para que possam se recuperar o quanto antes.

A contaminação se alastrou rapidamente e os profissionais da área de saúde estão trabalhando na linha de frente nos hospitais. Em meio a isso, a Sede também tomou algumas medidas de precaução.

Primeiro, no dia 3 de março, foi realizado no Recinto Principal da Sede o Serviço de Solicitação. Foi realizado apenas com o hyoshigui e o kazutori, com o propósito de que todos os seguidores, tomando isso como modelo, pudessem realizar o Serviço, seja nas igrejas, nas casas de divulgação ou nas casas dos seguidores.

Depois, no final de março, com a disseminação do vírus, decidimos que, somente os condutores das Igrejas-mor e os diretores das regionais do Japão entrariam no Recinto para reverenciar a Cerimônia Mensal de março e o Culto às almas de março, para evitar uma contaminação generalizada, já que muitas pessoas iriam regressar a Jiba. Aos seguidores em geral, foi solicitado reverenciarem de suas casas. Para a Festa Natalícia de Oyassama e a Cerimônia Mensal de abril, planejávamos no mesmo formato do mês de março, contudo, no dia 7 de abril, o governo japonês anunciou o “Estado de Emergência” para algumas províncias e, na noite do dia 16, para todo o Japão. A solicitação do governo era para que as pessoas evitassem sair de suas províncias, mas como já havia condutores de Igrejas-mor que regressaram antes desse anúncio, estes, assim como no mês de março, participaram da Festa Natalícia, mas a Cerimônia Mensal de abril, foi realizada somente com o Pessoal do Serviço.

Sobre os cursos, o Curso de Formação Espiritual da Sede (Shuyoka) do mês maio foi cancelado e os demais cursos, como o Curso de Habilitação para Mestre do Caminho também foram cancelados. O Regresso das Crianças a Jiba deste ano, infelizmente, também teve que ser cancelado. Essa decisão foi tomada pela Sede ouvindo as opiniões das pessoas e seguindo as orientações do governo, já que muitas pessoas de diversos locais do Japão e do mundo viriam a se reunir em Jiba.

As decisões sob essa situação foram tomadas com o pensamento de que, como yoboku, todos os seguidores possam cumprir as suas responsabilidades cada qual em sua posição, sejam as que se dedicam em Jiba, em cada igreja ou nas casas de divulgação.

Da forma como se alastrou essa pandemia, creio que o pensamento das pessoas se tornou bipolar. Por exemplo, a ação de utilizar a máscara. Você utiliza a máscara por medo de ser infectado ou utiliza a máscara para não contaminar as pessoas. Usar a máscara é a mesma ação, mas, o significado se direciona a dois opostos. Não querer contaminar as pessoas, em outras palavras é levar em consideração o próximo, é a demonstração desse sentimento, e quanto mais se tem esse sentimento, isso se torna o espírito de querer salvar as pessoas. Agora, se tem medo de ser contaminado, de se preservar, as ações dos outros lhe incomodarão. Ficará criticando e olhando feio para as pessoas por tomarem certas atitudes.

Hoje, regressar nos dias do Serviço para reverenciar a Sede não está sendo possível. Contudo, sem se preocupar por não podermos entrar no Recinto da Sede, desejo que tenham o sentimento de que é importante também reverenciar de onde cada pessoa se encontra. Por isso, acredito que a palavra-chave desse enorme nó se chama “amabilidade”. Pensar e ser gentil com o próximo, é esse o sentimento que devemos aprofundar mais em nossos corações, hoje.

P: Qual é a reflexão do ponto de vista doutrinário sobre a disseminação do vírus?

R: Na Escritura Divina é mostrada algumas das doenças infecciosas que assolaram o mundo. Primeiro, temos a varíola. Essa palavra aparece por sete vezes entre a Parte VI e a Parte XIII. Essas Partes foram escritas entre os anos de 1874 e 1877. Nesse período, no ano de 1875, essa palavra aparece por três vezes na Parte VII. Nesse ano, ocorre a identificação de Jiba, é ensinado a melodia e o movimento das mãos do “Itiretsu sumasu kanrodai (O Kanrodai que purificará todos igualmente), e é ensinado todo o Serviço.

Na Parte VII, temos:

O que pensam sobre estes Serviços? É a dedicação única à salvação do parto e da varíola. VII-97

O que pensam ser esta salvação? Ensino o Serviço que previne da varíola. VII-98

Este é o Serviço que ensina logo o caminho e que purificará o espírito de todos do mundo. VII-99

Como estão ouvindo esta explanação? É apenas o preparo para salvar o mundo. VII-100

Ao mesmo tempo em que diz que protegerá da varíola através do Serviço, diz também para purificar o espírito. Eu sinto nesses versos que na base do Serviço, se encontra a amabilidade de Deus-Parens.

Em Jiba é executado o Serviço do Kanrodai. Nas igrejas, nas casas de divulgação e nas casas dos seguidores foi permitido executar o Serviço que recebe a mesma razão do que é executado em Jiba. Nesse Serviço tem que estar inserida toda a amabilidade. Isso se tornará na solicitação da salvação do mundo. Esse é o ponto importante a se dar mais ênfase nesse momento.

Na Parte XII, escrita no ano de 1876, tendo como foco o verso 95, temos:

O que pensam sobre esta salvação? Certamente, encarrego-me para não terem varíola. XII-95

E antes desse verso, temos:

Doravante, é o pedido de Tsukihi; que todos reformem firmemente o espírito. XII-91

Doravante, se todos do mundo, igualmente, se salvarem mutuamente em todas as coisas, XII-93

Saibam que Tsukihi aceitará esse espírito e fará toda e qualquer salvação. XII-94

Vendo pelo ponto de que Deus-Parens concederá a proteção se executarem amparados o Serviço, está estimulando reformarem o espírito naquele de amabilidade, onde todos, unindo os espíritos, pensem em ajudar e salvar uns aos outros. Temos ainda,

Se todos determinarem sinceramente o espírito e não contrariarem os dizeres de Deus, XII-99

Então, o espírito de Tsukihi apressará a salvação assim que o aceite seguramente. XII-100

Não pensem ser esta salvação insignificante, é o Registro principal da região dos esclarecidos. XII-101

“Não contrariarem os dizeres de Deus”, ou seja, se solicitarem unindo os espíritos, tornando os seus espíritos amáveis, ajudando e salvando, Deus irá aceitar esse espírito. A forma de como mostrará a graça, será através do “Registro principal da região dos esclarecidos”, do qual está instruindo para transmitir as pessoas. Nesse sentido, o que devemos perceber hoje é que através do nó dessa infecção, se encontra o amor parental de Deus que deseja a reforma para um espírito amável.

Em seguida, houve a doença da cólera, e sobre isso, temos:

Aquilo que o mundo chama de cólera, é um aviso do pesar de Tsukihi. E.D. XIV-22

A cólera foi uma epidemia ocorrida no Japão por volta do ano de 1879, e aparece na Parte XIV. Em toda a Escritura Divina, vemos a mudança da denominação de Deus-Parens, começando por “Deus”, “Tsukihi (Lua-Sol)” e “Parens”, e nesta Parte, ocorre a mudança de “Tsukihi” para “Parens”. Ainda, é ensinado que a cólera é um aviso do pesar de Tsukihi.

No começo da Parte XIV, temos:

Embora o espírito de Tsukihi apresse dia a dia, o espírito dos próximos está somente a desanimar-se. XIV-2

O fato de se desanimar ocorre porque os superiores nada sabem. XIV-3

Sem saber disso, no mundo, estão todos desanimados, subordinando-se a eles em tudo. XIV-4

Vendo pelo lado de Deus, creio que o “pesar” está relacionado ao espírito “desanimado” das pessoas. Ainda, em outro verso relacionado a cólera, temos:

Haja o que houver, de acordo com o espírito sincero, nada haverá a temer. XIV-49

Creio que esteja ensinando neste verso que se mudar de um espírito desanimado para aquele espírito animado, não haverá nada com o que se preocupar e é para ficarem tranquilos. Temos ainda,

Se o pesar do Parens verdadeiro for manifestado, não há quem saiba como apaziguar. XIV-79

Quanto a isto, se houver sinceridade verdadeira, explicarei seja o que for. XIV-80

Mencionando isso, diz ainda,

Desde que peço insistentemente por este caminho, nada há a se preocupar, o Parens se encarregará. XIV-84

Não pensem o que seja este fato; desejo logo o Serviço com os instrumentos musicais. XIV-85

Hoje, embora realizem o que quer que seja, não se preocupem, pois o Parens se encarregará. XIV-86

Está mostrando o enorme espírito do Parens. Eu penso que isso é um ponto importante.

O Shimbashira II, no 56º Curso Shinto, referente a Escritura Divina, mencionou sobre a mudança de “Tsukihi” para “Parens” da Parte XIV.

“Vendo pelo sentimento de pais e filhos, está apressando a dedicação sincera à salvação. Sobre a dedicação sincera à salvação, em outras palavras, quer dizer a conclusão do Serviço. Por ter chegado o tempo, é bom seguir conforme as orientações do Parens sem se preocupar com outras coisas. Essa é a posição de vocês, seguidores. Depois, Deus aceitará e lhes mostrará. Comecem a executar o Serviço.

Penso que é o momento em que apressa a execução do Serviço. Apressar a execução do Serviço, não é Deus, não é Tsukihi que está dizendo de forma autoritária, mas está mencionando com o seu sentimento, por isso utiliza a palavra “Parens”. Essa é uma das características dessa Parte. Leiam refletindo bem sobre esse ponto. Apreciem esse ponto.

Está dizendo que o modo de se ligar com o Parens de acordo com o espírito humano é com plena confiança e carinho.”

Ou seja, na Parte XIV, é o sentimento do filho que se ampara no Parens e mostra a amabilidade do Parens, e está ensinando sobre como devemos ligar o espírito a Deus-Parens. Ainda, através da terrível doença da cólera, estimula a reforma do espírito, e diz para não se preocuparem, pois Deus se encarregará de qualquer coisa.

Eu penso que a amabilidade do Parens ultrapassa os limites de uma mera caridade. Nós, seguidores do Caminho, amparados nessa amabilidade e animando o espírito, com certeza receberemos a salvação, é isso que podemos sentir a partir desses versos.

P: O que nós seguidores sempre devemos ter em mente ao receber a “amabilidade do Parens”?

R: Nas Indicações Divinas a palavra “amabilidade” aparece por diversas vezes. Na Indicação Divina de 16 de maio de 1900, temos: “Do mesmo modo que se cultiva o espírito das pessoas, falar palavras amáveis é a base do mundo”. Está ensinando que “se pensar em palavras amáveis, se torna a base do mundo”. Ainda, vendo a vida-modelo de Oyassama, para as pessoas que regressavam a Jiba, ela sempre dizia, em primeiro lugar, palavras amáveis como: “seja bem-vindo de regresso”, “obrigado pelo sacrifício”. Nisso, as pessoas sentiam que Oyassama era realmente o verdadeiro Parens. Oyassama não começou ensinando uma doutrina difícil ou orientando sobre algo, e sim, dizendo palavras amáveis, acariciando as mãos e as costas das pessoas. Acredito que essa amabilidade é que se torna “a base do mundo”, a origem para a salvação mundial. Na Indicação Divina suplementar do ano de 1888, temos: “Para salvar as pessoas, a sinceridade no espírito. O que se diz uma palavra amável, é ter no espírito a sinceridade.”

A sinceridade no espírito pode ser manifestada através das palavras amáveis. Utilizar sempre palavras amáveis. Conforme utilizamos palavras amáveis, talvez o nosso espírito mude para aquele de amabilidade. Por isso, pensando sempre em utilizar palavras amáveis, acredito que isso nutrirá o espírito de sinceridade que Deus venha a aceitar.

Hoje, apesar de não podermos encontrar com as pessoas, podemos transmitir palavras amáveis através de um telefonema ou das redes sociais. Acredito que essa atenção com as pessoas seja importante. Ainda, na Indicação Divina de 13 de janeiro de 1892, temos: “o que se diz um espírito, se existe um espírito amável, há também um espírito grosseiro”.

Observando a mesma situação ou passando pela mesma experiência, se vai utilizar um espírito amável ou não, depende de cada pessoa. Pensando dessa forma, o que vemos hoje, se torna uma ótima oportunidade para refletirmos em que direção nós devemos nos esforçar. Ainda, através desse enorme nó, é possível mudar, transformar em algo novo.

Através desse nó, se continuar por dois, três meses sem poder reverenciar a Cerimônia Mensal, pode ser que haja dentre os seguidores, aqueles que diminuirão o seu sentimento em relação à fé. Por isso, neste momento, é muito importante pensar em quais palavras vão dizer as pessoas. Será que conseguiremos dizer palavras amáveis como: “não se preocupem, fiquem tranquilos. Vamos superar juntos esse nó e nos encontrarmos novamente”. Ou palavras mais severas como: “o que está fazendo? Tem que ficar firme e não fraquejar”. Através da forma de como falarmos hoje, o aspecto que vai surgir será bem diferente após cessar esse enorme nó. Com certeza, Deus-Parens aceitará esse esforço em mudar o próprio espírito.

P: Como podemos aprender com essa dificuldade que o mundo todo está enfrentando?

R: Todas as pessoas do mundo se encontram na mesma posição de ser ou não infectadas. Ninguém sabe quem será ou não infectado. É uma situação que não se distingui nada, é igual para todas as pessoas. Sendo assim, é uma chance concedida para que todos possam direcionar os seus olhos naquilo que ensina de que todos somos irmãos e que este corpo é igualmente emprestado a todos os seres humanos.

Quando acontece alguma coisa, a tendência do ser humano é ficar procurando um culpado. Tendo o pensamento de que tudo é uma orientação de Deus-Parens, nós, seguidores do Caminho, vamos estender o nosso coração naquele que pensa em aliviar a aflição dos próximos. Eu acredito que isso seja a fonte para recebermos as graças desse enorme nó.

Ainda, refletindo a partir do nosso pequeno mundo que é a família, as crianças não podem ir à escola devido às ordens governamentais de isolamento. Até meses atrás, talvez o nosso pensamento fosse de que se a criança for à escola, ela poderia receber uma educação. Isso também se relaciona ao ensinamento. Tínhamos o pensamento ilusório de que se a criança participar das atividades infantojuvenis, das atividades dos estudantes, ela teria uma formação. Por isso, neste momento, se faz necessário uma forma diferente de visualização. Claro que é importante que muitas pessoas possam participar e ficarem contentes com as atividades e a educação escolar também é indispensável. Contudo, não se pode ficar satisfeito apenas com isso, e mesmo para a família, talvez seja uma oportunidade para refletir novamente sobre o amor parental concedido.

Ainda, o casal, os pais e filhos, pode ser que tivessem a impressão de que “eu sou responsável por isso, você é responsável por aquilo” e assim, todos satisfeitos cumprindo cada um a sua função. Contudo, neste momento temos que mudar esse pensamento. Pensando em cada um dos familiares, procurar suprir com amabilidade as necessidades mútuas. Eu acredito que seja essa percepção que devemos ir descobrindo. Perceber aquilo que até hoje ainda não havíamos percebido, cada um ir mudando o sentimento naquele de amabilidade.

P: Por último, uma mensagem a todos os seguidores do Caminho.

R: Acredito que esta situação é uma boa oportunidade para as igrejas e as famílias ensinarem aos filhos “o porquê de se realizar o Serviço”, “o porquê de a família estar seguindo a fé deste ensinamento”. Ensinar isso, não se torna um processo na formação dos sucessores do Caminho? Não é ensinar com a mente, é ensinar de forma natural dentro do seu convívio familiar.

Para os seguidores ligados a igreja é a mesma relação. O condutor da igreja, ligando para os seguidores, mesmo que seja para perguntar se estão bem de saúde. Às vezes não dá para ligar para todos os seguidores, mas se tiver a intenção de se esforçar em transmitir palavras amáveis, não há nada com o que se preocupar por que Deus se encarregará das coisas posteriores. Em vez de pensar “só sei fazer isso”, pense em “eu posso fazer isso” e se contente de verdade com o que pode realizar.

Até agora, falei sobre a amabilidade e em como é importante ir mudando. Contudo, na situação atual, uma mudança física é difícil, por isso, temos que mudar a parte interna. Para mudar a parte interna, precisamos realizar o Serviço. Mesmo que não tenha o altar de Deus-Parens em suas casas, pode direcionar-se a Jiba e os familiares, juntos, realizarem o Serviço. Tudo bem que não podemos sair para praticar a divulgação ou reunir as pessoas para realizar o hinokishin, mas podemos pensar naquilo que conseguimos realizar, como por exemplo, ler os livros doutrinários. Podemos encontrar novas percepções ou algo que faça animar o nosso espírito. Animar o espírito, esse é o espírito que corresponde à intenção do Parens. Com certeza, essa dedicação se liga a evolução espiritual.

Começando a partir de qualquer coisa daquilo que cada um consegue realizar para nutrir e cultivar o espírito de amabilidade e de ânimo, não há nada com que se preocupar, nem mesmo com esse enorme nó se ficar amparados firmemente em Deus-Parens.