627 Set 2023_Meu cotidiano
novos trilhos no caminho
Paulo Haruo Kondo
Meu nome é Paulo Haruo Kondo e acabei de me aposentar do Metrô, onde trabalhei na área de restabelecimento por 32 anos.
A história com transporte sobre trilhos começou com as viagens de São Paulo até Bauru, para participar do Encontro Infantojuvenil, Tsudoi.
Pelo que me lembro, havia dois vagões fretados que partiam da Estação da Luz, em São Paulo, pela manhã, e chegávamos no início da noite em Bauru.
Sempre fui muito curioso sobre como as coisas funcionavam. Eu burlava a caixa de ferramentas do meu tio e vivia desmontando tudo. Não sei por que razão, ele deixava trancado com cadeado. Tradicionalmente, toda a família se dedicava ao comércio, mas sob orientação da minha mãe, entrei no curso técnico em eletricidade depois de ouvir uma palestra de um professor contando o quanto o Brasil era desenvolvido nas obras de construção de hidrelétricas, e dominava a tecnologia de produção e transmissão de energia elétrica. Na época, fiquei maravilhado com uma excursão à Itaipu, recém-inaugurada; era a maior barragem de uma usina hidrelétrica do mundo.
O contato com os trilhos se iniciou quando entrei no estágio no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, no departamento que realizava ensaios de fadiga mecânica em trilhos e ensaios nos sistemas dos trens metropolitanos da empresa CBTU e Fepasa (hoje CPTM). Conheci o computador denominado Mainframe da Burroughs e Digital que operava um disco rígido do tamanho de uma caixa de pizza, que armazenava alguns kilobytes e utilizava linguagem Basic. Depois de um ano, começaram a aparecer os kits da Apple, de computador caseiro que estava começando a revolucionar o mercado. Ao terminar o estágio, não consegui me inserir no mercado de trabalho, e fui cursar o Seminário de Formação Espiritual, Shuyokai.
Devido à curiosidade de saber como o mundo funcionava, me interessava por física e matemática. Escolhi a matemática e, logo em seguida, consegui ingressar no Metrô de São Paulo.
A empresa Metrô surgiu em abril em 1968, mas a operação comercial se iniciou em 1974, com a linha 1-Azul (Santana-Jabaquara). Lembro de ter ido com a família andar de Metrô na época da inauguração da estação Sé, que foi entregue por último devido à complexidade da obra.
No Metrô, existe quase tudo em matéria de tecnologia, sistemas elétricos, sistemas de telecomunicações, e sistemas exclusivos de sinalização de transporte sobre trilhos. Os trens se movimentam automaticamente através do Computador Central. Tudo com a maior segurança possível aos passageiros. Sim, o Metrô sempre foi capaz de andar sozinho, sem a necessidade de um maquinista. Até pouco tempo, sempre houve maquinista por questão de segurança e para aumentar a confiança em caso de panes no sistema, como por exemplo, usuários segurando as portas.
Ao longo dos meus 30 anos de empresa, os sistemas que mais sofreram modernização foram os sistemas de computação e telecomunicações. O Metrô já operava com os Mainframes da IBM, na Central de Controle, que depois foram substituídos pelos computadores mais modernos. Diz a lenda que o sistema IBM, de tão velho, só funcionava no Metrô de São Paulo. Funcionava muito bem, mas como todo equipamento, sofreu com peças de reposição.
Nos aparelhos de telecomunicações, utilizávamos o sistema de rádio de comunicação VHF, que cobria todas as estações da linha. Passamos pelos aparelhos de BIP e os Pagers, que eram aparelhos que nos avisavam quando era necessário atendimento imediato de emergência. Na transmissão de dados, passamos pelos sistemas que utilizavam os modems de telefonia a dois fios aos sistemas de redes de transmissão de dados que conhecemos como Internet.
Certa vez, numa manutenção de emergência, efetuei uma manobra elétrica indevida que desligou um terço da linha Vermelha fazendo parar todos os trens repentinamente. Preocupado com as consequências, imediatamente assumi a responsabilidade e telefonei para meu supervisor informando o erro. Para minha surpresa, não escutei uma bronca; ouvi palavras de compreensão. Ele disse: “Só erra quem está trabalhando! Você consegue resolver o problema?”
Trabalhei na linha 3-Vermelha e vi ser construída a linha 2- Verde, a linha 4-Amarela, a linha 5-Lilás e a Linha 15 Prata.
Lembrando as histórias, estive exposto a várias situações de perigo, mas, fui agraciado por nunca ter sofrido um acidente de trabalho, por sorte e pelos treinamentos que recebemos. Tenho a convicção de ter sido protegido por Deus-Parens todo esse tempo. Essa mesma convicção vem do sentimento de sempre fazer a oferenda na minha igreja. Quando minha mãe fazia um bolo, sempre oferecia o primeiro pedaço ao altar de Oyassama. A oferenda, ossonae, também tem que ser assim, separar a parte no dia do pagamento com o sentimento de agradecimento a Deus-Parens e nunca oferecer aquilo que consideramos sobra.
*é diretor da Associação Infantojuvenil e condutor da