634 2024.abr_meu cotidiano
a razão do amor filial
O trabalho para superar os desafios e fortalecer o conteúdo da igreja
Meu nome é Thomas Takashi Otonari, Yoboku da Igreja Nova Yooki. Recebi a honrosa solicitação de escrever para esta página. Confesso que fiquei muito preocupado por não estar à altura para escrever, devido à minha imaturidade e falta de experiência, principalmente sabendo da importância deste Jornal como meio de divulgação e transmissão dos ensinamentos. Refletindo, todos os dias sempre vinha a imagem dos meus pais e avós.
No mês passado, recebemos a grata visita do condutor anterior e esposa da nossa igreja superior Nishioyama. E na oportunidade, lembrei das palavras de um grande mestre da Igreja-Mor Asakura, Rev. Hiroshi Uchiyama, que me disse: “Thomas, dedicando-se aos pais, nunca terá erro nesse caminho... “. Naquela época, eu tinha apenas 22 anos e morava e me dedicava como jovem na igreja-mor.
Ao me lembrar destas palavras, procurei relembrar os grandes feitos dos meus avós e pais, e pude compartilhar um pouco com o condutor anterior de Nishioyama, Rev. Hirokazu Ide. Relembrei que meu pai contava histórias da Igreja Nishioyama, no período em que pode se dedicar por seis meses, quando ele tinha 18 anos de idade. Havia dias em que ficavam sem jantar por falta de recursos. Ainda, em determinados dias, repetiam a oferenda de folhas do dia anterior no altar de Deus-Parens, pois não tinham condições de comprar um repolho sequer. Os banheiros eram apenas buracos no chão, e, periodicamente, era necessário limpar o fosso.
No Brasil, ao voltar, a família também passava por uma vida muito difícil. Trabalhava na atividade de lavanderia sem estrutura ou máquinas; realizava tudo manualmente. Tudo o que sobrava era pra manter a família e os custos para ir até a Igreja e para poder fazer a reverência mensalmente.
Relembrando todos estes sacrifícios é que meu pai, após virar condutor da Igreja Nova Yooki, determinou com afinco nos trabalhos da lavanderia e, mesmo que faltasse comida, se empenhou de corpo e alma ao pai espiritual, que era a Igreja Nishioyama. Tudo o que tinha e tudo o que conseguia juntar, enviava para os pais espirituais, nunca se esquecendo do passado.
É com esse sentimento que, hoje, eu estou à frente dos trabalhos da lavanderia, dia e noite, sábado, domingos e feriados. Paro apenas para reverenciar Deus-Parens na Igreja e nas cerimônias mensais. Faço tudo com gratidão e alegria para que eu possa dar o maior suporte possível ao condutor, à igreja, à toda a família e às pessoas ao redor da comunidade. Tenho a honra de poder recolher toda semana roupas de pessoas em situação de rua para realizar a lavagem, quando também aparecem as oportunidades para a ministração do Sazuke.
Assim, creio que todo mundo deve ter tido algum tipo de problema de relacionamento com seus pais ou pais espirituais. Mas os verdadeiros erros vem de nós mesmos. As inúmeras falhas como filho e como filho do caminho é minha, não deles. Não estou à altura da importância desta matéria. Tenho uma dificuldade enorme de ter uma boa relação com meus pais e gostaria de pedir desculpas a eles por tantos problemas causados, e pela minha falta de maturação espiritual. Mas gostaria, enfim, de enaltecer seus feitos e grandes ensinamentos, que nos ensinaram o verdadeiro significado da Dedicação Filial.
“Ser pai ou ser filho são circunstâncias da predestinação. Sem dedicar aos pais, esquecendo a razão dos pais e causando preocupações, não saberão o que serão na próxima vida.” (ID. 09/04/1907)
“As pessoas antigas dizem-se pais. Por mais filhos que tenham, os pais são únicos. É preciso respeitar o que foi dedicado. Por existirem os pais, existem os filhos. Por mais inteligente que sejam os pais, não sabem que filhos insensíveis nascerão. Existem os filhos que dizem que os pais são insensíveis, mas, por mais insensíveis que sejam os pais, é justamente por terem os pais. Quando os anos passam, são pessoas insensíveis. Mesmo as pessoas insensíveis, o que se diz pais é importante. Por mais inteligente que sejam os filhos, respeitar os pais é uma razão.”(ID. 14/10/1889)