642 2024.DEZ_meu cotidiano
Saborear a vida
Emílio Ohnuma
Sou Emilio Yoshimune Ohnuma, Yoboku da Igreja Arapongas, situada no Bairro de Nossa Senhora do Carmo, próximo de Itaquera, em São Paulo.
Nasci e cresci dentro da Tenrikyo, sou da quarta geração dentro do Caminho. Mas, quando criança, sempre fazia o Serviço por obrigação. Aprendi através do meu avô e dos meus pais muitas coisas, mas não compreendia muito. Os ensinamentos são difíceis, a tradução nem sempre é clara e, de qualquer forma, tudo requer bastante estudo e dedicação.
Minha maior dedicação ocorreu após ir para o Japão e fazer o curso Oyassato Fusekomi Katei. Na época estava com 20 anos (1993), tranquei a faculdade de Zootecnia na UNESP-Botucatu no final do 2° ano. Em Tenri, tive a oportunidade de conhecer pessoas de diversos países e ver como as pessoas interagiam. Diversas vezes pessoas desconhecidas me diziam “você é Ohnuma? Você é idêntico ao seu pai quando jovem e quero agradecer e fazer algo em retribuição às gentilezas e favores feitos por seu pai”. Na minha cabeça ficava um ponto de interrogação. Como assim? Isso deve ter sido há 25 ou 30 anos! Muito tempo! O que mais guardo na memória era uma senhora que me reconheceu pela fisionomia e disse que meu pai (Takamune Ohnuma) tinha levado ela até a estação de trem na garupa da bicicleta quando estava atrasada e poderia perder o trem. Achei muito engraçado a forma que ela se expressou e senti o quanto aquilo marcou a pessoa e ela veio retribuir a mim o que ela não conseguiu fazer na época. Naquele momento entendi que plantamos hoje para colher no futuro. Meu pai plantou no passado e eu estava colhendo os frutos. O respeito e admiração de muitos desconhecidos para mim, me fizeram admirar e compreender o verdadeiro sentimento de Gratidão aos meus Pais.
Creio que todos, se puderem refletir o quanto nossos pais se dedicam para o nosso crescimento; cada um do seu jeito, mesmo cometendo erros, irá descobrir o quanto o incondicional amor parental existe e deixamos de perceber e dar valor no nosso dia a dia. O incondicional amor de Deus-Parens por todos os seus filhos é também esplendoroso e, infelizmente, não prestamos atenção e deixamos de perceber isso também.
Uma das coisas que faço todos os dias sem esquecer é olhar pela janela, fechar os olhos e curtir aquele minuto de paz e relembrar cada detalhe do dia que passou. Lembrar que apesar dos problemas, estou respirando, com saúde e podendo desfrutar de coisas simples e gostosas que deixamos passar despercebido e só percebemos quando perdemos ou não temos; são frutos do amor de Deus-Parens por nós.
Falo isso porque, para quem me conhece, sou professor de dança de salão já há quase 30 anos. Muitos jovens da Tenrikyo me conhecem porque colaborei no Curso Estudantil por 16 anos seguidos. Hoje, além da dança, sou terapeuta especializado em acupuntura japonesa, massoterapeuta e quiropraxista. Ajudo atualmente no Espaço Saúde Tasukeai, no Dendotyo.
Convivo diariamente com pessoas com dor, com patologias físicas e mentais, pessoas que carregam amargura e dores por décadas, e no outro extremo, convivo nas minhas aulas de dança somente com sorriso, alegria, gentileza, ou seja, os dois extremos me mostram várias faces da vida.
Hoje, ajudo uma pessoa com deficiência visual e percebo e aprendo como coisas tão simples ficam difíceis de fazer, apenas por não enxergar. Dentro da área de terapia me preocupa observar o quanto todos esquecem de se preocupar que nosso corpo é um empréstimo de Deus-Parens e precisamos cuidar com carinho deste corpo que nos foi emprestado e que um dia iremos devolver.
Como cuidar? Fácil: dormir bem; comer alimentos saudáveis; fazer diariamente uma caminhada e alongamentos; cultivar a bondade; e, sorrir. Esse é o mínimo!
Diariamente, sempre penso no Youkigurashi (vida plena de alegria e felicidade).
Sim! Podemos ter uma vida plena de alegria e felicidade. Isso depende somente de nós mesmos. Para a felicidade existir, é preciso existir a tristeza. Por existir a tristeza é que sabemos e sentimos que existe a felicidade, e por existir a felicidade, sabemos da existência da tristeza.
A vida é feita de desafios é que motiva a existência. Caso contrário, a vida seria monótona e não saberíamos avaliar se estamos satisfeitos e felizes. Pense nisso.