Elton Massanori Kimura
Minha família ingressou na Tenrikyo em 1922, pouco antes do quarto decenário de Oyassama. Portanto, 2026 será o décimo decenário desde a origem da fé de nossa família.
Cresci ouvindo sobre os esforços dos antepassados e o desenvolvimento da igreja a cada decenário. Faço parte da quarta geração, mas, na celebração dos 140 anos do ocultamento físico de Oyassama, em 2026, será a minha primeira participação como condutor de igreja.
Eu recebi o dom da concessão, Sazuke, um ano antes dos 120 anos do ocultamento físico de Oyassama. Já tive a alegria de ver grandes graças, através da ministração do Sazuke, de pessoas se curando de enfermidades como Parkinson, que são consideradas incuráveis. Porém, agora, com a chegada da época oportuna dos 140 anos do ocultamento físico, venho refletindo se consegui receber alguma graça extraordinária ou vivenciar algum milagre.
No final de 2019, meu irmão retornou (faleceu), aos 29 anos. O condutor da igreja filiada, que celebrou esse funeral, retornou após 10 dias. E, passados mais 20 dias, uma tia também retornou. Naturalmente, o clima da igreja se tornou bastante triste. Em 2021, em plena pandemia do Covid-19, recebi a permissão de condutor e, buscando fazer surgir um novo broto destes sucessivos nós, determinei o espírito, juntamente com os seguidores, de iniciar a construção de um alojamento na igreja.
Em agosto de 2023, a sinceridade de todos, somado ao apoio das igrejas superior e filiadas, culminou na inauguração do novo alojamento, com a presença do condutor-mor e esposa. Foi o primeiro alento de alegria e esperança depois de tantas dificuldades.
Logo após, demos início aos preparativos para a celebração dos 70 anos de fundação da igreja, no ano seguinte. Neste interim, recebemos a notícia de que o reverendo Daisuke Nakayama, presidente mundial da Associação dos Moços, e comitiva viriam ao Brasil em julho de 2024, para participarem da Assembleia Conjunta Comemorativa dos 70 anos de fundação da Associação dos Moços e Associação Feminina do Brasil. Mas, antes do evento, fariam a visita a três igrejas e a nossa estava incluída, com um pernoite. Como na região não há hotéis, decidimos reformar a casa de visitas, que foi concluída com a união dos seguidores. Reverendo Daisuke fez a visita no dia 11 de julho. No dia 6, havíamos celebrado com alegria a cerimônia dos 70 anos de fundação da Igreja Jussara.
Assim, com ânimo revigorado, os seguidores se animaram nas atividades decenárias, na divulgação e salvação. Entretanto, em julho, meus pais sofreram um grave acidente de carro. Foram salvos, sendo protegidos de um grande para um pequeno infortúnio. Na ocasião, minha mãe poderia ter morrido, conforme os diagnósticos de fraturas. Hoje, ela está praticamente normal.
Ainda, recentemente, uma pessoa com câncer de garganta veio à nossa igreja. Precisava remover oito tumores e, devido à extensão da cirurgia, seu rosto ficaria deformado, perderia a voz e não conseguiria mais deglutir. Ministramos o Sazuke e fizemos o Serviço de Solicitação. Concluída a cirurgia, ela recebeu a grande graça, sem qualquer sequela; o câncer regrediu e continua apenas com a quimioterapia oral. Ela deseja regressar a Jiba algum dia.
Ainda, o pai de um seguidor, em avançado estágio de câncer, com metástase no pulmão e fígado. tinha diagnosticado uma sobrevida de três meses e entrava no terceiro mês. Com o corpo bem debilitado, foi ministrado o Sazuke e oferecido o pó de cevada abençoado (hattaiko). Conseguindo restabelecer um pouco a condição física, deu início a um tratamento paliativo. Incrivelmente, com o passar dos dias, passou a se restabelecer, voltando a comer e andar. Para a surpresa de todos, um novo exame identificou que o câncer havia sumido do pulmão e o fígado estava em estado de recuperação.
Quando pensamos em milagres, o que vem à mente é o restabelecimento de grandes infortúnios. Por outro lado, ser curado de uma enfermidade significa que, em algum momento, poderíamos ter perdido a saúde que possuíamos. Quando o corpo volta ao estado normal, não ficou melhor do que era, mas apenas voltou a ser como era antes.
Refletindo dessa forma, entendi que o verdadeiro milagre, na verdade, ocorre todos os dias, a todo momento, isto é, recebendo a plenitude das providências divinas, podemos trabalhar em prol da salvação do próximo.
Durante o período dos três anos, mil dias, penso que passei desejando ver e viver grandes milagres. Contudo, o maior milagre que recebi foi ter o corpo vivificado: um corpo saudável capaz de praticar os ensinamentos de Oyassama com alegria.
Ter tido saúde para dedicar por três anos, podendo praticar os ensinamentos de Oyassama, realmente foi um grande milagre.
Há muitas pessoas que não estão mais presentes no dia de hoje. Muitos retornaram (faleceram), mas muitos outros chegaram ou nasceram. Poder estar juntos, reunidos e compartilhando experiências, creio que este é o grande milagre da vida. Ainda, aprendendo a reconhecer que tudo que consideramos normal é, na verdade, extraordinário, é o ponto principal para podermos viver com gratidão.
A caminhada rumo ao decenário Oyassama me fez perceber que os grandes milagres são aqueles que tenho recebido e vivido a todo o momento.
(Massanori Kimura)