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apontar a seta para si

Daisuke Nakayama

Estou muito feliz por ter celebrado hoje, juntamente com todos os senhores, a cerimônia mensal de julho nestas terras brasileiras que se localizam tão distantes de Jiba.

Hoje, gostaria de falar por aproximadamente 15 minutos sobre o tema: “Apontar a seta para o próprio espírito”. 

Na verdade, há uma coisa que tem me deixado um pouco preocupado recentemente. É o fato de minhas filhas não conseguirem cumprimentar as pessoas. 

Tenho duas filhas que completarão seis e quatro anos em pouco tempo. Elas não estão conseguindo fazer cumprimentos como: “bom dia”, “boa tarde”, “obrigado”.

As duas sabem muito bem que têm que cumprimentar as pessoas, mas quando ficam na frente delas, acabam ficando com vergonha e não conseguem. 

No entanto, como pais, desejamos que elas digam bom dia ou obrigado com naturalidade. Até pensamos que não é necessário fazer para nós, mas que pelo menos façam para as outras pessoas. 

Por isso, quando nos encontramos com alguém, tentamos fazer com que cumprimentem pelo menos formalmente, empurrando a cabeça delas de cima para baixo e dizendo: “Boa tarde, não é?” “Obrigado, não é?” Mas, muitas vezes, temos que nos desculpar com a outra pessoa, dizendo-lhe: “Desculpe por não conseguir cumprimentar”. 

Nesse meio, certo dia, na saudação da manhã que fazemos todos os dias após o Serviço da manhã, um jovem servidor relatou que estava passando por uma situação desagradável ultimamente e colocava a culpa apenas na outra pessoa, mas depois, se deu conta de que essa situação estava refletindo a imagem do próprio espírito. Com isso, falou a respeito da importância de “apontar a seta para o próprio espírito”. Ouvindo isso, foi como se tivesse me despertado. 

Estava apenas pensando: “O que deve fazer para que minhas filhas passem a cumprimentar as pessoas”, procurei na Internet: “soluções para crianças que não cumprimentam”, e me aconselhei com pessoas ao meu redor.

Estava certamente apontando a seta para minhas filhas, buscando apenas formas de fazer com que elas mudassem. Aí, ouvindo o relato desse jovem servidor, quando apontei a seta para mim mesmo, me dei conta de algo. Eu mesmo não estava conseguindo cumprimentar de maneira que animasse as pessoas.

É claro que, basicamente, eu cumprimento todas as pessoas, mas refleti que muitas vezes isso estava sendo feito mecanicamente, sem sentimento e apenas de modo protocolar. Por isso, desde então, no dia a dia, tenho procurado cumprimentar atenciosamente, de modo a animar as outras pessoas.

Se, por acaso, daqui para frente, eu cumprimentá-los de forma desanimada, por favor, me deem uma bronca. Desta forma, graças ao relato de um jovem servidor, deixei de cobrar cumprimentos de minhas filhas e comecei a cobrar um novo comportamento de mim mesmo. 

Bem, mudando um pouco de assunto, será que as senhoras ou os senhores, quando estão se dedicando à salvação de alguém, não ficam bravos ou cobrando algo dessa pessoa?

Desde um ano atrás, minha esposa e eu estamos cuidando da Sra. A. Ela sofria de violência por parte do ex-marido e estava em frangalhos, tanto física quanto espiritualmente, quando fugiu para a cidade de Tenri. 

Ela não tinha nenhuma relação anterior com a Tenrikyo, mas, por algum motivo, ela chegou na distante cidade de Tenri e se encontrou comigo e com minha esposa. A sra. A tem um filho pequeno, e hoje, ele e minhas filhas têm se dado bem, e estamos criando uma boa relação de confiança com a sra. A. 

No entanto, depois que nos relacionamos por um tempo, começaram a surgir várias situações. Ela costuma reclamar do serviço, não consegue se relacionar bem com as pessoas e está sempre com cara de cansada. De vez em quando, até sugeria se não era uma boa ideia mudar de serviço.

Ainda, chegamos a consultar um empresário conhecido nosso, que tinha uma empresa onde a sra. A poderia se dar melhor; ela chegou até a fazer entrevista com o encarregado, mas, no fim das contas, ela continua trabalhando inalteradamente na mesma empresa e continua reclamando do serviço. 

Por isso, acabei até ficando bravo com ela, pensando: “se está tão insatisfeita, seria melhor que largasse esse serviço...”.

Em meio a isso, um certo amigo me pediu para explanar sobre a Tenrikyo na comunidade que ele promove. Esse amigo não é da Tenrikyo e nessa comunidade também não há ninguém da Tenrikyo. Achei que seria uma boa oportunidade de divulgação e aceitei contente. 

Depois de algum tempo, quando estava escrevendo o texto da explanação, digitei o seguinte: “Na Tenrikyo, é ensinado que salvando os outros, estará salvando a si mesmo. Por isso, nos dedicamos à salvação das pessoas e, fazendo isso, conseguimos identificar as poeiras em nosso espírito, conseguimos purificar o espírito e, como resultado, conseguimos obter a nossa própria salvação”. Nessa hora, pensei: “Nossa, como será que eu estou agora?”

Refletindo a respeito de mim mesmo, eu estou apontando a seta para a sra. A, cobrando dela uma mudança: “Seria bom se fizesse dessa forma...”. Por outro lado, não estava apontando nenhuma seta para meu espírito. 

Então, pensei comigo mesmo: “será que, assim como a sra. A, não há algo que não estou conseguindo me decidir e não estou conseguindo colocar em prática?” Foi então que me ocorreu algo.

Ainda por cima, dentro de mim, era algo muito importante. Mesmo assim, dava várias desculpas para o fato de não estar conseguindo praticar e ficava sempre adiando. Através da sra. A, Deus fez com que eu me desse conta desse espírito de poeira.

Na Escritura Divina, é ensinado: “Este mundo é corpo de Deus. Reflitam a respeito disso em tudo.” Assim como é ensinado, todos nós, estejamos em Tenri ou estejamos no Brasil, somos vivificados e vivemos da mesma forma, dentro do corpo de Deus.

Por isso, tudo neste mundo não ocorre de acordo com o nosso pensamento, mas sim, de acordo com a intenção de Deus. Como Deus está pensando em “purificar o espírito dos seres humanos e fazê-los viver a vida plena de alegria e felicidade”, através de vários fatos e eventos, orienta-nos de modo que possamos purificar nosso espírito. 

No entanto, na maior parte das vezes, não nos damos conta, apontamos a seta para as outras pessoas e vivemos preocupados, inseguros e reclamando. Esse certamente sou eu, preocupado porque minhas filhas não conseguem cumprimentar os outros, reclamando porque a pessoa que desejo salvar não muda da forma que eu quero. 

Mas é justamente quando as coisas não ocorrem conforme o nosso pensamento que surge a oportunidade para purificarmos nosso espírito. Daqui para frente também, gostaria de puxar para a minha direção a seta apontada para as outras pessoas e me tornar, passo a passo, uma pessoa cada vez mais próxima de viver a vida plena de alegria e felicidade.

Atingimos justamente a metade do período de atividades decenárias voltadas aos 140 anos do ocultamento físico de Oyassama. Na Instrução, o Shimbashira destaca a importância da salvação nesta época oportuna, e ainda, sempre que tem oportunidade, ele explana sobre a importância da dedicação e cuidado.

Seja no local da salvação, seja no local da dedicação e cuidado, sinto que o tema de hoje: “apontar a seta para o próprio espírito”, é algo muito importante. 

A pessoa que desejo salvar não quer ouvir as explanações sobre Deus. Os próprios filhos e os fiéis não são positivos em relação à fé. Não tenho a certeza de que meus filhos irão realmente suceder esta fé. Creio que os senhores também ficam preocupados com diversos problemas. 

No entanto, quando alguma coisa não vai muito bem, é a chance para mudar a si mesmo. Deixando de lado o fato de essa pessoa vir a seguir a Tenrikyo ou não, devemos seguir dedicando a nossa sinceridade, redirecionando para si a seta apontada na direção da outra pessoa. 

Se conseguirmos seguir dedicando a nossa sinceridade verdadeira para contentar e salvar as pessoas, com certeza Deus irá aceitar esse espírito e mostrar as coisas da melhor forma possível. Por isso, com certeza, tudo ficará bem. 

A época do decenário é uma época em que várias coisas são mostradas. Na mesma medida, Deus nos concede as oportunidades e espera que as aproveitemos.

Sem deixar passar essa gratificante época oportuna, vamos nos aproximar ainda mais da intenção divina e contentar Oyassama no dia da celebração da cerimônia decenária de 140 anos do seu ocultamento físico. Muito obrigado pela atenção dispensada.

*é presidente mundial da Associação dos Moços


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